Do sumiço de crianças a
esqueleto encontrado em rede, alguns casos permanecem sem solução no estado.
Pesquisador reclama da deficiência na estrutura da polícia
Nos romances policiais,
dificilmente os casos ficam sem solução. Se na ficção, o índice de elucidação
dos crimes aproxima-se de 100%, na vida real está bem longe disso. Do sumiço de
criança a esqueleto encontrado “deitado” em rede, alguns casos permanecem
insolúveis no Ceará, como o Tribuna
do Ceará mostra ao resgatar 10 fatos policiais de repercussão
que ocorreram no período de um ano e parecem estar longe de serem esclarecidos.
São
diversos os fatores que dificultam a identificação e conclusão das ocorrências.
Seja pela imperícia de investigadores, vagarosidade da Justiça ou,
simplesmente, astúcia dos criminosos. Segundo o pesquisador do Laboratório de
Estudos da Violência (LEV), Luís Fábio Paiva, diariamente relatos de parentes
de vítimas chamam a atenção. “Eles contam como o irmão, o sobrinho ou o primo
foram mortos, e esses crimes jamais se tornaram processos. Jamais os
responsáveis, sequer, chegam a ser acusados. A situação é tão grave que, nas
periferias, as pessoas sequer
reivindicam a possibilidade de esse crime ser investigado”,
conta.
Segundo
disse, os casos emblemáticos – como o da morte da turista italiana em
Jericoacoara – mostram o quanto é deficiente a estrutura de trabalho da
polícia. “A investigação de morte da italiana foi muito precipitada e
equivocada. Chegou até a ser absurda. E, infelizmente, são coisas que se
repetem”, lembra, citando a prisão da carioca Mirian França, considerada
suspeita do assassinato de Gaia Molinari
Mas o problema é maior ainda. Quando a polícia
consegue concluir o inquérito, de acordo com Luís Fábio, o processo estanca no
sistema de Justiça Criminal. “De todos os serviços públicos, esse é o pior. A
gente consegue falar da polícia, de saúde, de educação, mas da Justiça não
consegue. É uma grande vergonha. Você não tem nem acesso. É tudo
completamente blindado”.
O pesquisador sugere que haja uma reforma no sistema de segurança
pública do estado, que os gestores entendam o fluxo do crime como um todo e não
somente divulguem projetos de mudanças no Ronda do Quarteirão ou aumento de
policiais do Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio). “A gente vive em
uma sociedade que prende muito. Criminosos de baixa complexidade, que
fizeram um furto ou estavam com alguns gramas a mais de droga são presos, mas
homicidas, latrocidas e pistoleiros estão soltos, matando à vontade. Precisamos
de uma reforma muito séria, mas vivemos em um país pouco sério”, conclui.
Em nota, a Secretaria de
Segurança Pública informou ao Tribuna do Ceará que “existem alguns casos mais
complexos que necessitam de um tempo maior de investigação”
Um vídeo chocante, que
mostra a execução de um jovem em Fortaleza, é alvo de investigação da polícia.
O caso ocorreu em 17 de fevereiro, na terça-feira de Carnaval. Nas imagens,
dois homens estão sentados na calçada, quando um grupo armado se aproxima a pé
e efetua os disparos. O jovem – que aparece de bermuda, boné e sem camisa – é
atingido por, pelo menos, 20 tiros, sem chance de defesa. Os envolvidos foram
identificados, mas apenas um foi preso. A polícia informou que a investigação
continua, na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e no 30º Distrito
Policial.
- Suposto
diretor de cinema é denunciado por assédio sexual a estudantes de teatro (12
de fevereiro de 2015)
O suposto diretor de cinema,
Raphael da Costa, denunciado por estudantes de teatro também continua em
investigação. A denúncia veio à tona em 12 de fevereiro e foi revelada com
exclusividade pelo Tribuna do Ceará.
De
acordo com o delegado Sidney Furtado, do 33º DP, testemunhas ainda estão sendo
ouvidas. “Solicitei documentos do Cuca da Barra do Ceará e vou pegar o
depoimento de outras pessoas. Ele [Raphael da Costa] será ouvido por último”,
contou. O inquérito deve ser encaminhado à Justiça no dia 12 de março. O jovem
pode responder ao artigo 216, atentado ao pudor mediante fraude.
Mais um caso chocante
ainda não tem resposta em Fortaleza. Uma idosa de 79 anos sofria constantes
agressões de uma “cuidadora”, no Bairro Vila União, e foi flagrada por câmeras
do circuito interno da casa. Apesar de as imagens terem sido divulgadas
pela mídia em 2 de fevereiro deste ano, a prisão da suspeita não foi
efetuada. O caso está sendo investigado pelo 25º Distrito Policial. De
acordo com o delegado Alísio Freitas, a suspeita foi autuada em um Termo
Circunstanciado de Ocorrência (TCO), no artigo 99 do Estatuto do Idoso. O TCO
foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário.
Gaia Molinari foi morta em
24 de dezembro, na Praia de Jericoacoara, um dos principais destinos turísticos
do Ceará. Mesmo após dois meses, o caso amplamente divulgado pela imprensa
segue sem solução. A carioca Mirian França, considerada suspeita pela polícia
de matar a italiana, ficou presa sem contato com a família durante 15 dias. Por
enquanto, o verdadeiro culpado do crime ainda não foi detido. A polícia não se
pronuncia sobre o fato.
O atropelamento de uma
mulher no Bairro Lagoa Redonda foi flagrado por uma câmera de circuito interno
de um estabelecimento comercial há mais de dois meses, em 6 de dezembro de
2014. A vítima foi arremessada a metros de distância e cai próximo a um muro. O
motorista não prestou socorro e fugiu. Em contato com o 35º DP, o Tribuna do
Ceará foi informado de que o processo ainda está sob análise do delegado.
O Caso Subtenente ocorreu em 11
de novembro do ano passado, no Bairro Dias Macedo, em Fortaleza. Mais de três
meses após o crime, que resultou na morte de garoto Lewdo Ricardo, ninguém foi
preso. O inquérito foi enviado à Justiça em 27 de janeiro e foi devolvido ao
16º Distrito Policial, para que fossem incluídos resultados de laudos e
perícias. Mais de dez pessoas já foram ouvidas no caso.
A
última novidade divulgada à imprensa foi um vídeo gravado de dentro da casa do
subtenente Francilewdo Bezerra e da esposa Cristiane Coelho. A polícia
constatou que o local do crime foi alterado. De acordo com o delegado
responsável pelo caso, Wilder Brito, “melhor aguardar e trazer uma conclusão
que não deixe nenhuma dúvida, do que fazer algo mal feito”.
- Mulher
escreve carta racista a funcionário do Detran que rebocou seu carro (11
de novembro de 2014)
O caso da carta com teor racista, repleta de
xingamentos contra servidores do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará
(Detran/CE), ocorreu há mais de três meses, em 11 de novembro. O motorista do
reboque do carro, Mauro César Cabral, que foi chamado de ‘cor da noite sem
estrelas’, disse que Tribuna do Ceará que o inquérito foi para a Justiça, mas
ainda não teve retorno. “Eu aguardo ser chamado, até agora não recebi nada”,
conta. Segundo a SSPDS, a suspeita Jane Cordeiro Alves foi indiciada por
calúnia, difamação, injúria e desacato ao funcionário público
- Após
matar três pessoas, estudante volta a se envolver em acidente de trânsito (10
de outubro de 2015)
A universitária Amanda
Cruz, de 22 anos, que atropelou e matou três pessoas em 2012, se envolveu em
outro acidente grave em 10 de outubro. Segundo o advogado da estudante, Chagas
Alves, em janeiro foi dada a sentença de nove anos de prisão em regime
semiaberto para Amanda. “A decisão judicial extrapolou e aplicou a pena máxima.
Eu recorri da sentença. Pedi que fossem aplicados os parâmetros que manda o
artigo 59 e que a pena fosse a mínima, de 2 anos”. A jovem ainda não foi presa
e está internada no Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza.
- Esqueleto humano é encontrado deitado em rede (22 de agosto de 2014)
Mesmo após seis meses, as
investigações sobre o caso do esqueleto humano encontrado em uma rede, no
Bairro Monte Castelo, não chegaram a nenhuma conclusão. O corpo do homem foi
achado em 22 de agosto do ano passado, depois de 1 ano e 3 meses desaparecido,
no terceiro andar de uma casa. No quarto, havia mensagens de despedida na
parede que diziam: “A senhora matou uma criança indefesa” e “Jesus foi morto e
crucificado por vocês”. Esta foi a terceira morte de familiares na mesma
residência.
Segundo
o escrivão Zeferino de Castro, o inquérito foi encaminhado ao Ministério
Público e retornou ao 1º Distrito Policial, para que fossem feitas novas
diligências. “A autoria do crime ainda não foi identificada, porque teremos de
ouvir outras pessoas”, diz – sem deixar clara a data prevista para que o
processo seja encaminhado novamente à Justiça
Um menino de apenas três anos
desapareceu do quintal da casa da avó, no município de Aracati, a 148
quilômetros de Fortaleza. O caso ocorreu no dia 6 de julho. Quatro meses
depois, a ossada do garoto Lucas Pereira Queiroz foi encontrada por um
trabalhador, na entrada da Comunidade do Cajueiro, a cerca de 800 metros de
onde o menino sumiu. Mesmo com mobilização da família, ninguém foi
preso. O delegado João Eudes Félix informou que, até o momento, ninguém
foi indiciado. O inquérito foi enviado à Justiça há dois meses e ainda não
retornou à delegacia. “Preciso ouvir outras testemunhas do caso, porque
encontrei contradições nos depoimentos”.
Depois
disso, a gente se pergunta: se há demora na conclusão dos casos policiais
bastante cobrados pela mídia, imagina com outros sem tanta atenção?
Fonte: Tribuna do Ceará
Matéria: Roberta Tavares
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