Brasília. A tarifa de energia elétrica deve ficar 38,3%
mais cara neste ano, de acordo com estimativa publicada ontem, pelo Banco
Central (BC), um crescimento em relação a janeiro, quando a estimativa era de
um encarecimento de 27,6%. A projeção faz parte da ata da última reunião do
Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central, ocorrida na semana
passada, quando a taxa Selic foi elevada de 12,25% para 12,75%, maior patamar
em seis anos.
De acordo com o Banco Central, a estimativa de alta no preço da
energia elétrica é reflexo do repasse às tarifas do custo de operações de
financiamento que foram contratadas em 2014. No início deste mês, as contas de
energia do País já subiram, em média, 23,4%.
Mas a energia não é o único item dos preços administrados -
aqueles cujo reajuste de preços é determinado pelo governo - que deve subir
mais neste ano. Outros itens importantes no consumo dos brasileiros também
devem ter altas significativas.
No conjunto dos preços administrados, a ata do Copom, divulgada
ontem, elevou a alta para 2015 de 9,3% para 10,7%. No caso de 2016, a previsão
de alta de 5,1% desse conjunto de preços foi substituída por uma elevação de
5,2%.
Para formar seu cenário para os preços administrados, o Banco
Central informou também que levou em conta hipótese de elevação de 8% no preço
da gasolina, mesmo valor do documento anterior.
Assim como no documento de janeiro, o BC voltou a explicar no
documento que a alta da gasolina é reflexo de incidência da Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e da PIS/COFINS.
Telefone
mais barato
Um item, contudo, apresentou uma projeção positiva para a
população. De acordo com o Banco Central, para a telefonia fixa, a previsão é
de uma queda de 4,1%, em 2015, ante expectativa anterior do começo do ano de
elevação de 0,6%.
Com esse novo cenário, o Copom ressaltou que o consumo das
famílias tende a se estabilizar neste anos.
Especialistas
apostam em juros mais altos em abril
São
Paulo. O economista-sênior
do Besi Brasil, Flávio Serrano, avaliou que a ata do Copom do Banco Central,
divulgada ontem, é "praticamente idêntica à anterior". "A única
coisa que é informação nova é que, a despeito de o câmbio ter piorado, a
projeção para a inflação em 2016, em ambos os cenários (referência e mercado)
caiu e, ainda que nos dois cenários ela esteja acima de 4,5%, deve estar já
próxima dos 4,5%", disse. "Estamos na iminência de uma pausa no
aperto, a depender do câmbio", acrescentou.
Para ele, "a porta está aberta, para 0,25 ponto porcentual ou
0,50 ponto porcentual em abril", referindo-se ao aumento da Selic por
parte do Copom, na próxima reunião. "Vai depender da evolução dos
indicadores até lá", disse, acrescentando que o câmbio é uma variável
"importantíssima" para acompanhar.
Já na avaliação do Barclays, a divulgação do Relatório Trimestral
de Inflação, no final do mês, será "crucial" para determinar o rumo
do atual ciclo de alta da taxa Selic. O banco diz que a ata trouxe pouca
informação sobre a condução dos juros. Para o banco, o BC deixou a porta aberta
para outra alta de 0,50 ponto porcentual na Selic ou mesmo de 0,25 ponto
porcentual no encontro de abril. O banco estima Selic indo a 13,00% na próxima
reunião, mas não descarta um aumento para 13,25% ao ano.
Inflação
perto da meta só em 2016
Brasília. A ata do Comitê de Política Monetária
(Copom)mostra que o Banco Central não tem mais a percepção de que a inflação
entre em 2015 em um longo período de declínio, ao contrário do que constava na
ata de janeiro.
No relatório divulgado ontem, o BC observa que o fato de a
inflação atualmente se encontrar em patamares elevados reflete, em grande
parte, a ocorrência de dois importantes processos de ajustes de preços
relativos na economia. Esses processos de ajustes são realinhamento dos preços
domésticos em relação aos internacionais e o realinhamento dos preços
administrados em relação aos livres.
O comitê considerou ainda que, desde sua última reunião, entre
outros fatores, a intensificação desses ajustes de preços relativos na economia
tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável para este ano.
"Nesse contexto, e conforme antecipado em notas anteriores, esses ajustes
de preço fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer
elevada em 2015", admitiu. Ao mesmo tempo em que reconhece que esses
ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação, o comitê
reafirmou agora sua visão de que a política monetária pode e deve conter os
efeitos de segunda ordem deles decorrentes.
Convergência
O BC passou a utilizar a expressão "ao longo" do próximo
ano ao falar da convergência da inflação para a meta de 4,5%. Substituiu a
avaliação "no próximo ano" para "ao longo" de 2016. Segundo
o Banco Central, os efeitos conjugados de demanda, consumo das famílias,
crédito, investimentos, exportações, política fiscal e condições financeiras
favoráveis são fatores importantes no qual decisões futuras sobre a taxa Selic
serão tomadas para assegurar a convergência ao longo de 2016.
Câmbio
O
BC trabalhou com um dólar defasado ao tomar a decisão, na semana passada, que
elevou a taxa Selic de 12,25%, ao ano, para 12,75%, ao ano. Nos últimos dias, a
alta da divisa norte-americana ante o real alimenta projeções de elevação do
IPCA no mercado financeiro - o que levaria o Copom a uma estratégia de mais
aperto monetário. O BC mudou sua previsão para o câmbio de R$ 2,65 para R$ 2,85
pelo cenário de referência, abaixo do valor negociado no da alta da Selic (R$
2,97). Vale ressaltar que aquele foi o último dia que o dólar fechou abaixo de
R$ 3,00.Fonte: Diário do Nordeste