De volta à caixa-forte

BANCO CENTRAL. O FURTO QUE NÃO ACABOU 



São, exatamente, 3h42min03 da tarde do dia 10 de agosto de 2005 quando a Polícia Federal (PF) inicia a perícia na caixa-forte da sede do Banco Central (BC) em Fortaleza. Os policiais, acompanhados por funcionários do BC, armazenam pistas em uma câmera filmadora, ao passo em que tentam descobrir e refazer o caminho do maior assalto a banco já registrado no Brasil. Dez anos depois do furto histórico, engenhoso e inacreditável, O POVO obtém, com exclusividade, o vídeo que constituiu prova contra 30 pessoas que participaram da escavação de um túnel até os fundos da caixa-forte. É a primeira vez que o interior da caixa-forte do BC - como a PF o encontrou quatro dias após a violação - é revelado por um veículo da imprensa.
 Das 21 horas de uma sexta-feira, 5 de agosto de 2005, às 6 da manhã do sábado, dia 6, quatro homens - rompendo o chão de terra, ferro e concreto - entraram na caixa-forte do BC local e furtaram R$ 164,7 milhões (em notas de R$ 50, recolhidas de circulação). Cerca de 3,5 toneladas de dinheiro escoaram por um túnel de 80,5 metros (com 65 centímetros de largura por 70 centímetros de altura), transportados em tambores que foram cortados ao meio e puxados com a força dos braços.
 Até chegar às informações esclarecidas, em depoimento, por Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão (considerado líder da quadrilha), a PF precisou pensar como os ladrões e ir pelas brechas que eles deixaram, da caixa-forte à casa alugada nas imediações do BC (de onde partiu a elaboração do assalto). O vídeo que se juntou às investigações guia o espectador pela ousadia e tensão experimentadas pelos bandidos na noite, madrugada e amanhecer do furto milionário.
 De acordo com o depoimento de Alemão, quatro pessoas transitaram no interior da caixa-forte do BC, naquele agosto insuspeito. Esgueirando-se entre paredes e caixas, e caixas, e mais caixas de dinheiro, entre escuros e silêncios, o grupo se tornou invisível a cinco câmeras de filmagem e a oito ou dez sensores de presença e de impacto – dispostos da porta de entrada da caixa-forte às paredes laterais e ao teto.
 O vídeo da PF leva o olhar e o fôlego, primeiro, à “boca do buraco”, por trás das últimas empilhadeiras. É possível imaginar cada um dos assaltantes surgindo de uma cova tão profunda que não se enxerga o fim. Homens que se igualaram aos bichos das profundezas, seguem rastejando ou agachados, fazendo-se menores do que são.
 Um funcionário do BC, em par com a narrativa do policial federal, simula maneiras e trilhas. Aponta veredas em meio à falível vigilância eletrônica e aos contentores (gradeados) de notas de R$ 50. Adiante, só dá para passar uma pessoa de lado, mais magra, devagar, cuidando pra não tocar na estreiteza e disparar um alarme. Acolá, usaram caixas para manufaturar uma escada.
 Finalmente, cortaram a grade de um contentor, carregaram um tanto de R$ 50, deixaram algum espalhado no chão. Por onde os quatro homens vão e voltam desaparecendo, durante nove horas, é surpreendente. “Eles passaram por dentro desse contentor, atravessaram por dentro”, indica o narrador do vídeo, focando o escuro. “Foram violados seis contentores”, conclui, no rastro. E, então, saíram milionários do banco pelo buraco que os levou de volta a uma velha casa da rua 25 de Março, 1071, Centro. A PF continua a filmagem na manhã do dia 11 de agosto de 2005. Vai à casa alugada - em maio daquele ano, por R$ 600 mensais – pelos criminosos.
 Mesas de escritório, ventilador de parede, cadeiras para atendimento, nos dois primeiros cômodos, desenham uma falsa empresa de grama sintética. O interior da casa vai revelando a verdade: outros vãos guardam material de construção e “toda sacaria do que era retirado do túnel”, conta o narrador . Os sacos de areia, descobertos por trás de uma parede de gesso, são amontoados, até quase o teto, em dois cômodos.
 Alimentos, panelas e roupas largadas no chão compõem a sujeira com ferragens e cal (espalhado para apagar digitais). Do quintal se avista o prédio do BC. Em um buraco cavado no que os peritos chamaram edícula (no popular, “um puxadinho”), nos fundos do quintal, esta história começou.
 A filmagem da PF conta cerca de 20 minutos de uma narrativa que não terminou até hoje. O furto à sede do Banco Central em Fortaleza continua remexendo os arquivos da Polícia: procura-se o que não foi visto, dito, recuperado. E continua assombrando e silenciando a vizinhança do banco. Tornou-se tão histórico quanto impressionante.
 WEBDOC. O WEBDOC BANCO CENTRAL, O FURTO QUE NÃO ACABOU TRAZ IMAGENS INÉDITAS E EXCLUSIVAS DA PERÍCIA NA CAIXA FORTE.
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RÁDIO/TV. O PROGRAMA O POVO NOTÍCIAS, DA TV O POVO, EXIBIRÁ HOJE O DOCUMENTÁRIO. O FURTO SERÁ TEMA DO DEBATES DO O POVO, NA RÁDIO.

Por Ana Mary C. Cavalcante
Via  O Povo

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