A solução está nos remédios?

Pesquisa aponta aumento nas vendas de medicamentos de uso controlado, como Rivotril e Ritalina de 2013 a 2014. Por que a sociedade tem recorrido tanto aos remédios para enfrentar a realidade?
(Foto: Internet)
A vontade é de “desligar” o corpo por tempo suficiente para que ele esqueça a exaustiva rotina. Custosas, as tentativas de dormir são frustradas pela ansiedade, pela insônia. Para conseguir reverter essa situação, homens e mulheres têm recorrido com frequência a medicamentos ansiolíticos (calmantes) e antidepressivos - nem sempre a saída mais indicada.
Os sintomas retratam uma realidade palpável e fervescente no Brasil. Em 2013, uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) mostrou que 35% da população entrevistada começava a utilizar tranquilizantes antes mesmo dos 26 anos.
Em paralelo, dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) apontam que, naquele mesmo ano, houve queda de 30% e 16%, em relação a 2012, no número de caixas vendidas de Clonazepam (princípio ativo do Rivotril, um ansiolítico) e Cloridrato de Metilfenidato (princípio ativo da Ritalina e da Concerta, usadas no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), respectivamente. Por outro lado, de 2013 a 2014, a mesma pesquisa indica aumento de 63% e 36% na quantidade de unidades vendidas.
Cabe questionar para que caminhos está rumando a sociedade e o que está tornando-a tão estressada a ponto de fazê-la buscar, nos medicamentos, um apoio para enfrentar a realidade. “O que a gente tem percebido é que o ser humano passa a dialogar com os seus problemas por meio dos remédios”, comentou o analista de Políticas Sociais do Ministério da Saúde, Rubens Bias.
O diferente vira doença
O que pode acontecer quando a população começa a tomar como patológico todo e qualquer comportamento é que “os ‘diferentes’, além de serem colocados à margem da sociedade, só podem ser incluídos dentro da normalidade sendo portadores de doenças”, como alerta o antropólogo Rui Harayama, do Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. 

Como exemplo, Harayama cita a Provinha Brasil - avaliação nacional que mede os níveis de alfabetização infantil. Segundo o antropólogo, em algumas escolas, se o estudante apresentar dificuldades de aprendizado e não conseguir obter bons resultados na avaliação, ele acaba sendo encaminhado a um médico para que, com um tratamento à base de remédios, possa cumprir a meta. “Ele (o estudante) passa a ser o disléxico ou o hiperativo”, critica.

Consequências semelhantes ocorrem com aqueles que se automedicam. Muitas vezes, a patologia sequer existe no indivíduo, mas se desenvolve a partir do consumo desenfreado de medicamentos de uso controlado.
Via O Povo

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