Com uma população carcerária que já beira os 25 mil detentos, o Sistema Penitenciário do Ceará vive dias de caos. Assassinatos, fugas, rebeliões, depredações e o domínio de facções criminosas transformaram as unidades carcerárias cearenses em verdadeiras fábricas do crime. O Estado vem, dia a dia, perdendo o controle sobre o sistema.
A realidade dentro das Casas de Privação Provisória da Liberdade, as chamadas CPPLs é de total desmando e descontrole. Em algumas delas, sequer há diretor e há muito tempo os agentes penitenciários sequer têm acesso às “ruas” onde estão dispostas as celas. Ali quem manda são os próprios presos. São eles quem “organizam” o horário de sair e de se recolher às celas. Eles mesmos fazem a “tranca” (fechamento os xadrezes).
No mais recente episódio de violência, pelo menos, 30 internos do recém-inaugurado Centro de Triagem Criminológica, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza , conseguiram escapar de forma mirabolante por um túnel só descoberto horas após a fuga em massa.
Já na Casa de Privação Provisória da Liberdade Agente Luciano Andrade Lima, a CPPL 1, em Itaitinga, também na RMF, os internos quebraram as grades de todas as celas e, para mostrar sua ousadia e indiferença com a disciplina da unidade, filmaram com as câmeras de seus celulares toda a depredação e postaram nas redes sociais. O fato ocorreu na madrugada desta segunda-feira (25).
Já na noite de ontem, o palco da desordem foi a Cadeia Pública da cidade de Limoeiro do Norte, na região do Vale do Jaguaribe (a 203Km da Capital), onde nove presos conseguiram escapar facilmente, já que a vigilância ali é precária, como de resto nas demais unidades do Sistema Penitenciário no Interior.
Facções e superlotação
Dominado por quatro facções criminosas - PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho), FDN (Família do Norte) e GDE (Guardiões do Estado) – o Sistema Penitenciário do Ceará tem servido de palco para constantes assassinatos e outros episódios de violência. No ano passado, foram 13 assassinatos nas cadeias cearenses. Agora, em 2016, em apenas quatro meses incompletos, já são 19 execuções sumárias.
E de dentro dos presídios também é partem as ordem para a prática de execuções sumárias, chacinas, golpes, seqüestros relâmpagos e virtuais , “saidinhas bancárias”, ataques a bancos com explosões das agências e também os atentados contra a Segurança Pública em represália à recém-aprovada lei estadual do bloqueio de celulares nas cadeias.
Um dos principais fatores desta situação caótica é o “inchaço” do Sistema. Praticamente todas as 136 cadeias públicas, cinco CPPLs e três penitenciárias apresentam um quadro de superlotação, à exemplo do que ocorre nas carceragens das delegacias de Polícia Civil e nos Centros Educacionais destinados ao recolhimento de adolescentes infratores. Há unidades que estão com lotação quase o triplo de sua capacidade.
Por FERNANDO RIBEIRO