Os conselheiros do TCM, Francisco Aguiar e Domingos Filho, foram informados, em casa, da decisão do governador
O governador Camilo Santana (PT) reuniu deputados estaduais aliados e disse ser questão fechada do Governo a reeleição do deputado José Albuquerque (PDT), presidente da Assembleia. Depois da reunião, os principais líderes do bloco político liderado por Cid Gomes (PDT) foram comunicar a decisão, concomitantemente, aos conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Francisco Aguiar e Domingos Filho, ambos interessados na eleição da Mesa Diretora da Assembleia.
Francisco Aguiar é pai do deputado Sérgio Aguiar (PDT), candidato que anuncia disposição de ir disputar a presidência do Legislativo estadual no fim da manhã de quinta-feira. Domingos Filho tem o controle de dois partidos: PMB e PSD, base de sustentação da postulação de Sérgio. Os dois conselheiros receberam o comunicado da decisão do governador, na hora do almoço, em suas respectivas residências , respectivamente por Ciro e Cid Gomes.
Aos dois foi dito que contestar a posição do governador é declarar rompimento com o Governo e como oposição passarão a ser tratados. Os deputados que não participaram da reunião de ontem, por optarem pela candidatura de Sérgio, foram e estão sendo procurados pelo próprio governador com o mesmo objetivo da conversa com os dois conselheiros do TCM.
Renúncia
Ontem, o deputado Carlomano Marques (PMDB), um dos integrantes da oposição que tinha compromisso em votar em José Albuquerque, renunciou ao mandato de deputado (ele foi eleito prefeito de Pacatuba) e em seu lugar assumirá o suplente Leonardo Araújo, eleitor de Sérgio. Leonardo foi quem deu a informação da renúncia de Carlomano. Parte da oposição que estava propensa em votar em José Albuquerque, agora pode se unir em apoio a Sérgio para tentar derrotar o Governo do Estado.
A batalha de bastidores sobre a eleição do presidente da Assembleia está sendo travada há algum tempo, sem a interferências das lideranças políticas fora do Legislativo. Só mais recentemente o governador Camilo Santana entrou no processo e teve a primeira conversa com Sérgio Aguiar tentando demovê-lo da ideia de disputa.
Não logrou êxito. Cid Gomes, a partir da semana passada começou a incursionar no ambiente da disputa, mas também não conseguiu convencer Sérgio da disputa. Nem sequer aceitou disputar com seu concorrente, dentro da bancada governista, como anteriormente havia sugerido, alegando estar disposto a ir para a luta, pois em 2018 seu projeto e disputar uma cadeira de deputado federal.
Décadas
Na reunião com deputados estaduais, ontem, na Residência Oficial, contou as presenças, além do chefe do Poder Executivo, os ex-governadores Ciro e Cid Gomes, assim como o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que participaram do encontro. A disputa acirrada entre José Albuquerque e seu colega de partido, Sérgio Aguiar (PDT), será a primeira após mais de três décadas, quando, inclusive, Murilo Aguiar, avô de Sérgio, após ser derrotado para a presidência do Legislativo, morreu repentinamente após o anúncio do resultado da votação.
Os jornalistas não tiveram acesso à reunião sequer para fazer imagens. Depois, porém, o líder do Governo na Assembleia, deputado Evandro Leitão (PDT), foi indicado para falar com os jornalistas e afirmou que está decidido que José Albuquerque é, de fato, o candidato da base do Governo, e que a partir de agora todos os presentes àquele encontro irão trabalhar para fazer dele presidente por mais dois anos.
Questionado sobre o racha que tal disputa causará na base governista, o deputado Evandro Leitão destacou que reuniões para reacomodação serão feitas na tentativa de recompor a base. "Quando termina uma disputa alguns resquícios podem surgir, mas vamos recompor a base para dar a estabilidade que o Governo precisa".
Além de Evandro Leitão, participaram ainda da reunião os vice-líderes Julinho (PDT) e Leonardo Pinheiro (PP), bem como José Sarto (PDT), Manoel Duca (PDT), Antônio Granja (PDT), Tin Gomes (PHS), Elmano de Freitas (PT), Moisés Braz (PT), David Durand (PRB), Bruno Pedrosa (PP), Ferreira Aragão (PDT), Zé Ailton Brasil (PP), Robério Monteiro (PDT), Ivo Gomes (PDT), João Jaime (DEM) e Walter Cavalcante (PMDB). Mirian Sobreira e Jeová Mota também estiveram presentes, assim como os suplentes Manoel Santana (PT) e Fernando Hugo (PP).
O deputado José Sarto disse que devido ao acirramento da disputa haverá sequelas futuras após o resultado da eleição de quinta-feira. Segundo disse, atritos poderão ocorrer, visto que o que está em disputa também nos bastidores é a sucessão do Governo, em 2018. "Tudo isso está sendo jogado dentro desse xadrez na Assembleia, e certamente terá implicações futuras", destacou o parlamentar.
De acordo com o pedetista, que está na Assembleia Legislativa há 22 anos, desde o início da colocação dos nomes houve tentativa de consenso e como não houve sucesso a disputa parece ser inevitável. "Os líderes devem avaliar esse cenário", ponderou.
Retirada
Diferente do que ocorreu quando Zezinho e o então deputado Welington Landim disputaram a presidência da Mesa Diretora no passado, o momento agora é mais complicado para Camilo do que foi para Cid, visto que não há disposição de retirada de candidatura. "Com isso a Mesa eclética vai para o espaço. Essa é a primeira vez que vejo um ambiente assim, de confronto direto. Antes havia nos bastidores, mas se resolvia naquela ambiência".
Fernando Hugo (PP), que está no Poder Legislativo desde o início dos anos 1990, afirmou que a disputa é "extremamente democrática", porém, ele ponderou que é preciso trabalhar para que nenhum ranço, adversidade ou rancor se sobreponha à unidade do trabalho legislativo ou à própria bancada de Governo. "Mais do que nunca vai valer aquela máxima que diz que a competição não deve valer mais que a união".
Hugo chegou a dizer ao governador para tratar do assunto há alguns meses, o que só veio ocorrer nos últimos dias. Segundo ele, por se tratar de uma disputa interna dentro do partido governista, há a possibilidade de haver uma "ressaca", que poderá eclodir no pleito de 2018. Heitor Férrer (PSB), que está há mais de uma década na Assembleia, afirmou que a eleição da Mesa tem influência de conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), o que tem incomodado muitos parlamentares.
Diario do Nordeste