Brasil tem único açaí certificado do mundo

Desde o dia 15 de dezembro, o Brasil tem o único açaizal certificado FSC do mundo. As áreas de produção são da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique, um arquipélago que fica a 160 quilômetros de Macapá, a capital do Amapá.

Antes da certificação, que atesta a boa qualidade do produto, os cerca de cem produtores do Bailique faziam vendas individuais e por um valor muito baixo, numa média de R$ 0,30 o quilo do açaí. Agora pretendem alcançar mercados diferenciados e conseguir preços melhores.

O FSC, Forest Stewardship Council, é um sistema de certificação florestal internacionalmente reconhecido que identifica, por meio de sua logomarca, produtos originados do bom manejo florestal.

E a certificação dos produtores do Bailique abre precedente para muitas outras porque o potencial do açaí é grande no Brasil e no mundo. Houve um aumento contínuo da demanda na última década e o fruto, que antes era consumido apenas no Norte do país, agora é muito utilizado em outras regiões, seja puro ou com xarope de guaraná. E ganha cada vez mais espaço no mercado internacional.


Para se ter uma ideia dessa demanda, em 2015, de acordo com dados do IBGE, o açaí – dos 13 produtos do extrativismo com variação positiva – foi o que apresentou o maior aumento na produção, quando comparado com 2014, com 9%. Em 2015, só o Pará colheu mais de 1 milhão de toneladas de açaí em uma área extrativista e cultivada de 154.486 hectares. A venda dos frutos injetou cerca de R$ 1,8 bilhão na economia em um ano.

De acordo com Aline Tristão, diretora-executiva do FSC Brasil, parte da renda advinda do açaí da comunidade do Bailique será reinvestida na Escola Família Agroextrativista, onde o filho do produtor vai estudar e aprender, além de colher, desidratar, processar e misturar o açaí de outras formas, gerando maior valor agregado ao produto.

Para a comunidade obter a certificação, foram realizadas oficinas de boas práticas no manejo de açaizais para que pudessem atender a requisitos pré-estabelecidos. As atividades foram promovidas com o apoio da Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Oela) e do Grupo Trabalho Amazônico (GTA).

“Podemos afirmar que esta certificação é resultado do empoderamento, autonomia e do engajamento comunitário. A associação acreditou ser possível libertar os seus produtores deste sistema de exploração centenário, o qual foram submetidos pelos atravessadores”, disse Rubens Gomes, da Oela.



Consumo consciente

O Brasil ocupa 7º lugar no ranking total do sistema FSC com 6,2 milhões de hectares certificados na modalidade de manejo florestal e envolve 118 operações de manejo, entre áreas de florestas nativas e plantadas.

Segundo Aline, aumentar essas certificações é fundamental para, cada vez mais, enxergar a floresta de forma integrada, aproveitando todas as suas possibilidades. No futuro, espera-se, inclusive, certificar serviços ecossistêmicos, como biodiversidade, sequestro de carbono, água e solo. Tudo isso com o objetivo de valorizar – e valorar – a floresta em pé.

Almir Suruí, o cacique-geral dos índios Paiter Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, que tem a área ameaçada pela presença constante de madeireiros e garimpeiros, afirma que se as pessoas parassem para avaliar a origem dos produtos antes da compra, talvez não houvesse tanto desmatamento e exploração ilegal na Amazônia.

Se você quer deixar de ser um consumidor que adquire produtos oriundos da floresta às cegas, quase tudo que é feito de madeira e de outros produtos florestais estão disponíveis no mercado com o selo do FSC. Para verificar a rastreabilidade de um produto certificado ou mesmo pesquisar onde comprá-los, acesse o info.fsc.org, um banco de dados de certificados do sistema FSC (Manejo Florestal e Cadeia de Custódia) no mundo todo.
A pesquisa pode ser feita pelo código do certificado, número de licença FSC, nome da empresa ou mesmo pelo tipo de produto.

Boas compras!
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Maria Fernanda Ribeiro
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Instagram: @eunafloresta
Twitter: @mfernandarib

Estadão


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