Um dos maiores consumidores do produto no Estado, a Crusoe Foods prevê crescimento de 30%
Diario do Nordeste
Bastaram menos de cinco anos para que a pesca do atum no Ceará saísse do zero e chegasse a 12,4 mil toneladas (t) em 2017. Um dos maiores consumidores da produção cearense, a fábrica de pescados em conserva da Robinson Crusoe, em São Gonçalo do Amarante, observou um crescimento de 30% de sua produção no ano passado e deve repetir o feito em 2018, aumentando proporcionalmente o número de postos de trabalho.
O diretor operacional da companhia, Santiago Fominaya, observa que, ainda que o percentual de crescimento da produção pareça muito grande, as cifras ainda são consideradas pequenas, uma vez que o volume de produção dos anos anteriores não foram grandes. "Nossa produção ocupa somente 15% a 20% da nossa capacidade. Poderíamos beneficiar industrialmente 100% da produção nacional do atum", explica o executivo.
Empregos
A companhia gera hoje cerca de 300 postos de trabalho formais e deve oferecer em torno de 90 vagas a mais neste ano. "Nossa indústria tem capacidade de fazer turnos de trabalho. Por enquanto, fazemos um turno só. Se vamos a dois turnos, vai a 600 (empregos). E a três, a 900. Então tem muito espaço para crescer. Tudo dependerá do mercado, do consumo, da pesca, da regularidade das embarcações. São muito fatores", aponta.
O crescimento observado no ano também se deveu ao aumento de embarcações licenciadas para a pesca do atum na região, indispensável para a garantia da segurança alimentar pela indústria. Segundo o executivo, o consumo da companhia deve crescer em igual velocidade à de regularização das embarcações - o Ceará fornece cerca de 80% do atum comprado pela empresa, que também adquire a matéria prima do Piauí e do Rio Grande do Norte.
Barcos
A falta de regularização das embarcações que realizam a pesca de atum, principalmente no Nordeste, é justamente o principal gargalo que o segmento enfrenta hoje. O diretor técnico do Coletivo Nacional de Pesca e Aquicultura (Conepe), Cadu Villaça, estima que cerca de 300 embarcações exerçam a atividade hoje no Ceará, mas que somente 10% a 15% são devidamente fiscalizadas e regulamentadas.
Esse, inclusive, foi um dos principais motivos para a realização, ontem, do seminário "A Pesca do Atum no Ceará: Aspectos Legais, Institucionais e Ordenamento", realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pelo Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindifrio) na Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).
A cadeia produtiva do setor corre contra o tempo - na semana passada, a União Europeia comunicou ao governo do Brasil que vai impedir a entrada de pescado brasileiro pela não conformidade do controle das embarcações que se dedicam à pesca no Brasil com as regras adotadas na Europa. O órgão responsável por essa regularização é a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, vinculada à secretaria-geral da Presidência da República.
De acordo com o coordenador geral de planejamento e ordenamento da pesca da Seap, Henrique Almeida, o órgão está fazendo um mapeamento das embarcações que querem se regularizar, mas é preciso que os proprietários registrem os pedidos na secretaria do órgão no Estado, que ainda são encaminhados a Brasília. "Queremos no máximo até o meio do ano organizar a frota no Estado", pontua.
Capacitação
Com o intuito de potencializar setores produtivos que não fossem afetados pela seca, o Estado viu na produção uma oportunidade pouco explorada. De acordo com o secretário da Agricultura, Pesca e Aquicultura do Estado (Seapa), Euvaldo Bringel, a pasta vem investindo na capacitação de pescadores e em melhorias no Porto de Itarema, expoente da produção do pescado no Estado. "Promovemos cursos de manuseio do alimento, já que o atum precisa ser eviscerado no mar, curso de navegação, melhorias nas embarcações", explica o secretário, destacando ainda o projeto "Ceará Mares do Atum" para incentivar o consumo do pescado pelo cearense. Bringel aponta que o produto tem o potencial de ser exportado, principalmente com as novas rotas internacionais que chegam ao Aeroporto Internacional Pinto Martins.
O secretário cobra, entretanto, mais políticas do governo federal para o segmento. "Trinta novas embarcações estão sendo construídas, mas de madeira. Falta uma política federal de financiamento de barcos. Poderíamos estar trabalhando com grandes embarcações de metal, como é feito no mundo. A madeira funciona, mas é de baixo rendimento, gasta muito diesel e é mais lento", observa o titular.
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