Quase metade dos brasileiros que poderiam votar pela primeira vez em outubro não se interessou sequer em tirar o título de eleitor. Atualmente, o país tem 3,8 milhões menores de 18 anos aptos a votar de acordo com as exigências do nosso sistema eleitoral. Mas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas 2 milhões fazem parte das estatísticas do eleitorado. Segundo especialistas, os jovens fazem parte de um grupo de “pessoas sem convicções políticas”.
Há 10 anos, o grupo de 16 e 17 anos representava 2,1% do eleitorado. Hoje, corresponde a 1,3% do total. Em 2008, havia 130,4 milhões de pessoas aptas a votar no país. Em 2018, serão ao menos 147,2 milhões. O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas acredita que “os jovens só conversam sobre seus assuntos afins”. “Dão mais atenção aos hobbies do que aos interesses coletivos e não têm convicções políticas.”
Corrupção, crimes de colarinho branco e instabilidade financeira contribuem para a falta de empenho dos eleitores mais jovens, segundo Caldas. Ele diz que, paradoxalmente, foi justamente a aproximação das pessoas com a política que despolitizou o Brasil. “Vimos o envolvimento das pessoas que elegemos em escândalos que nunca pensamos ter no país. Antigamente, falar de política era uma atividade nobre. Fazíamos isso em casa, tomando café com as visitas. Isso acabou”, completou o professor.
Falta diálogo
O vice-diretor do Centro Educacional 2 do Guará, Luiz Carlos Kienteca de Melo, acredita que parte do desinteresse dos jovens pela política ocorre pela falta abordagem sobre o tema. Ele explicou, por exemplo, que nenhum projeto específico para discutir política foi criado para falar das eleições com os jovens na rede pública do Distrito Federal. “Há uma discussão entre os professores para que no próximo semestre isso seja incluído nas aulas do dia a dia. Infelizmente, ainda não é algo massificado.”
Rodrigo Piubelli, professor de história do Colégio Marista Champagnat Taguatinga, explica que apesar de o calendário eleitoral deste ano, ainda não é perceptível um envolvimento dos alunos no cenário e contexto político. “Tento trazer isso em sala por meio da temática que aparece na sociedade e no dia a dia que impacta a vida deles. No ensinamento de modelos de governo, por exemplo, procuro associar o assunto e falar sobre a crise política”, conta.
Ainda sem candidato
A estudante Diana Nunes Delloni, 17 anos, decidiu ir às urnas pela primeira vez em outubro. Ainda sem candidato, a moradora da Asa Norte acredita que votar é importante porque simboliza que o povo, de fato, tem responsabilidade sobre quem escolhe para governar. “Pensei em alguém mais novo, acho que a Manuela D’Ávila ou o (João) Amoedo”, defende.
Bruna Teixeira Lamounier, 17, também estudante, decidiu votar e explicou que houve influência da família na hora de fazer o título de eleitor. “Minha mãe trabalha no Ministério Público e trata desses assuntos o tempo todo. Eu me sentiria muito culpada se não votasse.” O interesse delas em escolher os próximos governantes, entretanto, não reflete a vontade do jovem brasileiro.
É o caso da estudante Jackeline Silva Souza, 16, que optou por não votar nem tirar o título de eleitor. “Confesso que me deu preguiça de tirar o título mas assim, para ser sincera, eu realmente não tenho esperança nenhuma no país”, justifica. Para ela, é melhor votar somente quando for obrigatório já que, em sua opinião, o seu voto agora não é necessário e “não mudaria em nada”.
Jonathan Alvarenga, 16, também optou por não participar das eleições deste ano e não tirou o título por não ter pressa para poder votar. “Eu realmente não quero, me sinto desmotivado também vendo tudo o que acontece na política do país, não quero participar disso este ano”, confessa. (BB e AR)
O que diz a lei
» A legislação prevê que, em alguns casos, o alistamento e o voto são facultativos. Menores de 18 anos, maiores de 70 anos e analfabetos não são obrigados a votar e não precisam justificar a ausência nas eleições. Além disso, algumas pessoas não votam porque foram privadas dos seus direitos políticos, que pode ser de maneira temporária ou definitiva. Portadores de deficiência têm que fazer o título, mas, se provarem que são incapazes de votar, não sofrerão nenhuma penalidade.
Com informação do Correio Braziliense
Com informação do Correio Braziliense