Com estiagem, criação de camarão no Ceará migra para o Interior

Aumento da salinidade nos reservatórios, gerado pela ausência de chuvas no Estado, tem expandido as possibilidades da produção em cativeiro do crustáceo longe da orla do Estado


Concentrada majoritariamente em áreas de estuário, a criação de camarão marinho no Ceará começou a migrar para o sertão ao longo dos últimos três anos. Com necessidade de uso intensivo de água salgada, motivo pelo qual a atividade é desenvolvida preferencialmente próxima ao mar, a produção em cativeiro (carcinicultura) passou a se tornar economicamente viável no Interior na medida em que a salinidade dos reservatórios foi aumentando, por conta da estiagem.

"Ocorre que nos últimos anos, devido à seca, os produtores, principalmente de leite, feijão e arroz, que precisam de muita água, foram mudando para o camarão. Com a salinização de açudes e poços, a água foi ficando ruim para a cultura dessas atividades e para o consumo humano, mas ficou apropriada para o camarão", conta Cristiano Maia, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC).

A partir daí, pequenas e médias criações começaram a se multiplicar às margens do rio Jaguaribe, de Jaguaruana até Icó (quase 300 quilômetros distante do mar), passando pelos municípios de Russas, Morada Nova, Alto Santo e Jaguaribe. Com uma rentabilidade por hectare significativamente superior à de atividades agropecuárias, a atividade acabou se tornando uma alternativa para pequenos e médios produtores afetados pela estiagem que atinge o Estado desde 2014.

A região do Baixo e Médio Jaguaribe, onde antigos produtores rurais passaram a cultivar o crustáceo, responde hoje por 10% da produção de camarão do Ceará, maior produtor nacional. E a expectativa é de que nos próximos anos essa participação chegue aos 20%. Apenas em Jaguaruana, onde a carcinicultura já é a principal atividade econômica, há cerca de 500 pequenos e médios criadores de camarão. Hoje, o município é o maior produtor do Estado que não utiliza água do mar. Em Morada Nova, nas áreas onde há cerca de dois anos se cultivava arroz, agora prospera a criação de camarão em tanques, com rentabilidade três vezes maior.

Peso na economia

Com cerca de 7 mil hectares de produção no Ceará, a criação de camarão em cativeiro, no sertão e nos estuários, gera 7 mil empregos diretos e cerca de 10 mil indiretos. E a produção do Estado, que já chegou a 45 mil toneladas por ano, deve fechar 2018 em 35 mil toneladas, com um faturamento global de R$ 700 milhões. Hoje, São Paulo e Rio de Janeiro são os principais mercados compradores do camarão cearense.
Embora o Ceará seja líder nacional no setor de camarão de cativeiro, a produção vem caindo nos últimos anos, sobretudo em decorrência da doença da mancha branca.

Diario do Nordeste

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