“Só o petismo fanático vai chamar os 60% do povo brasileiro de fascista. Eu não, de forma nenhuma.“ – Ciro Gomes, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo desta quarta-feira.
É o mesmo Ciro que durante a campanha alertava para “o crescimento do fascismo“. Como o suposto fascismo no país pode crescer sem supostos fascistas é um daqueles mistérios que desafiam a lógica comum, mas que podem perfeitamente conviver com a política.
Parece contradição. Na verdade, é contradição. E mesmo assim, eis o segredo, tem lá a sua lógica. De olho em 2020 e depois em 2022, percebendo a onda conservadora, a hora é de trabalhar estratégias de adaptação para sobreviver. Descolar de forma contundente do petismo e assinalar uma trégua temporária com o novo governo federal são ações alinhadas com o mais puro darwinismo político.
“Acredito que nós vivemos em uma federação, e que a relação institucional possa existir entre a Presidência da República e os estados brasileiros“ – Camilo Santana, em matéria do jornal O Povo, antes de reunião com secretários na terça-feira.
Faz bem o governador cearense em pedir sobriedade e consciência institucional. É preciso lembrar, porém, que essa é uma via de mão dupla. Camilo deseja manter a frente de governadores do Nordeste, única região onde Fernando Haddad venceu, para conversar com o novo governo.
Em outras ocasiões, esse grupo de governadores do NE, junto com Minas Gerais, que nunca viu nada de errado com as refinarias de Dilma e com a recessão produzida em seu governo, divulgou cartas criticando a gestão Temer e tentou visitar Lula, para produzir factoide eleitoral. É bom evitar esse tipo de engajamento.
É óbvio que os interlocutores no Ceará com o governo federal irão mudar e isso exigirá habilidade e respeito de todos – situação e oposição. Não é preciso elogiar ninguém gratuitamente, mas convém não criar arestas desnecessárias, preservando o aspecto institucional na relação com a União.
A palavra que melhor lhe servirá de norte não é resistência, mas como apontam as palavras de Ciro, adaptação.
Tribuna do Ceará