Rodovias cearenses estão em estado precário de conservação

As chuvas registradas nos primeiros meses deste ano, somadas à falta de manutenção adequada, agravaram o cenário que há alguns anos já se mostra preocupante. A má condição das estradas também impacta a economia do CE



Um trecho da CE-176 que dá acesso às praias de Icaraí de Amontada e Moitas, no litoral oeste do Ceará, ficou intransitável após as fortes chuvas arrastarem parte da rodovia. Uma via provisória será aberta no local para garantir a passagem de veículos.
As precipitações pluviométricas também expuseram a fragilidade de um trecho da BR-230, entre a cidade de Campos Sales e Antonina do Norte. Com aproximadamente 56 km de extensão, a rodovia apresenta muitos buracos. "Tem alguns que parecem umas crateras, nos dois sentidos. Está arriscado demais", conta o motorista Francisco José Pereira. A situação não é diferente na CE-166, entre Nova Olinda e Santana do Cariri. Apesar dos dois municípios serem importantes destinos turísticos na Região - estão dentro do território do GeoPark Araripe -, a rodovia também está com a malha danificada e, em alguns trechos, o asfalto está cedendo.

Outra rodovia que chama atenção é a CE-288, que liga os municípios de Caririaçu e Aurora. Apesar de ter sido inaugurada há pouco tempo, em julho de 2017, o asfalto também apresenta buracos após as chuvas deste primeiro trimestre. Lá, há uma grande circulação de veículos pesados já que é um dos principais acessos à BR-116. Um trecho de 47 km da CE-386, entre as cidades de Crato e Farias Brito, está em situação análoga. Inúmeros buracos põem em risco quem trafega pela estrada.
"É preciso tapar esses buracos logo porque o risco de acidente aumenta, além de danificar os veículos, cortar pneus", reclamou o representante comercial Flávio Duarte.
Fatores diversos
A chuva, no entanto, não é o único fator que agrava o estado de conversação das rodovias. A falta de manutenção se evidencia quando, em regiões com poucas volumes pluviométricos, a malha viária também está bastante danificada.
Na Região Central do Estado e no Sertão de Canindé, as condições de tráfego nas rodovias federais que cortam o local estão igualmente precárias. O trecho mais crítico da BR-122, principal via de destino ao sul do Ceará, está situado a partir do Município de Ibaretama até a cidade de Banabuiú. "São 40 km que é praticamente impossível trafegar. A gente fica fazendo zigue-zague para tentar desviar dos buracos, está complicado", relata o crediarista Marciel Oliveira e Silva.
Crônico
Este cenário, no entanto, não é novo. No fim do ano passado, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) já havia identificado que 72,4% das rodovias cearenses têm algum tipo de deficiência em sua conservação, levando em conta pavimento, sinalização e geometria da via. O índice é o pior dos nove estados da Região Nordeste. O levantamento foi realizado após a CNT ter percorrido 3.581 km em rodovias estaduais e federais. O índice (72,4%) é superior ao que fora identificado em 2017, quando a Confederação constatou que 60,6% das rodovias cearenses tinham algum tipo de deficiência. O relatório deste ano ainda não foi divulgado. O balanço deve sair no segundo semestre.
Prejuízo
A má conservação das rodovias não afeta somente os motoristas. Além de colocar em risco a vida de quem trafega por essas localidades, a malha viária deteriorada impacta negativamente no bolso do consumidor, mesmo àqueles que estão bem distantes das estradas consideradas ruins ou péssimas.
A explicação é simples. Mais buracos representam prejuízos aos fretistas. Prejuízo sinaliza aumento no frete. E esse incremento é repassado ao consumidor final. A equação, também simplória, é cruel com o consumidor.
Conforme Antônio Nidovando Pereira Pinheiro, 2º vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), a realidade atual das estradas do Ceará influencia no valor do transporte dos produtos. "Os carros se quebram e esse custo acaba sendo incluído no preço da mercadoria. Esse repasse é inevitável para o consumidor. Hoje, um frete é aproximadamente 15% do valor da mercadoria, mas isso depende da carga que está sendo transportada e do local de onde e para onde ela vai", explica Pinheiro.

A superintendente do Ceará do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Líris Silveira Campelo Carneiro, explicou que, desde o segundo semestre do ano passado, as empresas responsáveis pelas obras de recuperação e manutenção das rodovias federais que cortam o Estado começaram a abandonar os projetos. A justificativa dada foi o encarecimento do preço de materiais betuminosos, utilizados na composição asfáltica, que tornou inviável o cumprimento dos contratos. Diante da situação, o Dnit iniciou, em janeiro, novos processos de licitação para as quatro em situação mais crítica: 020, 122, 222 e 403, citadas na matéria.
De acordo com a superintendente, já foi concluída a licitação e dada a ordem de serviço, essa semana, para as três novas empresas contratadas para as BRs 222, 403 e a 122. Os obras nas rodovias já começaram. Já na BR-020, a empresa está em processo de assinatura de contrato e entrega de documentação. Ao todo, vão ser recuperados 2.400 km de malha asfáltica federal que corta o Ceará. O orçamento previsto é de R$ 52 mi.
Até o fechamento da edição impressa desta reportagem, o Departamento Estadual de Rodovias (DER) não havia respondido às demandas. Posteriormente, por meio de nota, o órgão garantiu que "realiza a conservação rotineira das estradas, com ações que incluem recuperação funcional e obras de restauração". Segundo o departamento, "1.055 km de rodovia já foram restaurados desde 2015, e mais 234 km estão em obras. Todos os trechos danificados estão identificados e serão recuperados".
O DER solicita ainda que, caso o cidadão queira informar a situação de alguma rodovia, entre em contato com os Distritos Operacionais (telefones disponíveis em www.der.ce.gov.br) ou por meio da Ouvidoria do Estado, pelo telefone 155.

Diario do Nordeste

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