Os
problemas que ecoam com as fortes chuvas somam-se a outras adversidades que
Jericoacoara enfrenta. Quem tem o hábito de frequentar a praia deve ter
percebido as mudanças que o lugar vem passando no decorrer dos anos. Uma das
transformações mais visíveis é a diminuição da chamada duna do pôr do sol, um
dos pontos turísticos mais visitados da região.
Segundo a doutoranda em Geografia
Adely Pereira, a duna diminuiu 6% em área e volume entre 2017 e 2018. Outro
ponto que chama atenção é que a formação está caminhando para o mar a uma
velocidade de 12 metros por ano. "A duna é atacada em altas marés, que
carregam os sedimentos", afirma. Se nada for feito, o monumento natural
poderá desaparecer em 20 anos.
Os dados integram os resultados de
uma pesquisa de mestrado realizada pela estudante no Programa de Pós-Graduação
em Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Ela afirma que, somado
aos processos de erosão natural, a ação humana tem interferência nesses
resultados: "a ação antrópica, o turismo, acelerou esse processo".
O orientador do trabalho, Fábio
Perdigão, explica que o crescimento da área urbana em Jericoacoara foi
realizado em uma região nomeada de "corredor eólico", espaço onde
circulam sedimentos que vêm da Praia do Riacho Doce (veja infográfico) e que
alimentam o campo onde a duna do pôr do sol está situada. "Esse corredor
foi ocupado pela urbanização e a alimentação da duna foi diminuída fortemente,
ocasionando um déficit constante de sedimentos".
A fim de sanar o problema, ele
conta que há um projeto da Secretaria do Turismo (Setur) em análise que
pretende criar "guias de corrente eólica" feitas com estruturas
naturais, como palha de coqueiro. Adely explica como funciona a técnica:
"É como se eu criasse um caminho natural de palha de coqueiro, a areia
bate e vai caminhando até chegar à duna para realimentá-la e ganhar
altura".
O Povo