Alta cúpula da facção GDE utiliza anéis valiosos como distinção

Investigações descobriram que as seis maiores lideranças dos Guardiões do Estado possuem anéis templários. Dois deles foram apreendidos na posse dos proprietários, que estavam na condição de foragido, em Recife, Pernambuco. O Gaeco, do Ministério Público, ofereceu denúncias contra a dupla


Seis anéis para os líderes governarem. Uma estratégia de distinção da alta cúpula da organização criminosa Guardiões do Estado (GDE) lembra uma história de cinema. Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Ceará (MPCE) contra dois presos descobriram detalhes inéditos sobre a hierarquia, o poder e a expansão da facção cearense. As informações foram obtidas com exclusividade pelo Sistema Verdes Mares.
Francisco de Assis Fernandes da Silva, o 'Barrinha' ou 'Guardião', e Francisco Tiago Alves do Nascimento, o 'Magão' ou 'Juara', foram presos em apartamentos de luxo no bairro Boa Viagem, em Recife (PE), em abordagens da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), nos dias 13 e 14 de abril deste ano. O Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do MPCE já denunciou a dupla por vários crimes, em maio deste ano.
Com os dois suspeitos, que já tinham mandados de prisão em aberto, foram apreendidos uma arma de fogo, munições, documentos falsos, dezenas de cartões de crédito, veículos e dois anéis templários.
Os anéis de ouro, semelhantes, chamaram atenção. O aprofundamento das investigações, através da extração de dados dos aparelhos celulares dos suspeitos, autorizada pela Justiça, revelou que 'Barrinha' encomendou a fabricação dos seis anéis, para os membros da Sintonia Final (a alta cúpula) da GDE. As negociações foram feitas pelo aplicativo WhatsApp. Cada joia vale aproximadamente R$ 7 mil - o que totaliza o investimento de R$ 42 mil - e carrega a sigla do proprietário.
'Barrinha' e 'Magão' são os donos das duas joias já encontradas pela Polícia. Outros três anéis templários, que ainda não foram localizados, pertencem a líderes da facção que já estão presos: Marcos André Silva Ferreira, o 'Branquinho' ou 'Dedé'; Yago Steferson Alves dos Santos, o 'Supremo' ou 'Gordão'; e Deijair de Souza Silva, o 'Mestre' ou 'De Deus'. A peça restante é de um chefe identificado como 'Siciliano', o qual os investigadores ainda não desvendaram a identidade completa. A defesa dos presos não foi localizada pela reportagem.
Denúncias
'Barrinha' era procurado pela Draco por participação na matança de 14 pessoas no Forró do Gago, em 27 de janeiro de 2018, episódio que ficou conhecido como 'Chacina das Cajazeiras'. As apurações policiais apontam que ele fugiu para Natal (RN) e, depois, Recife (PE), onde mantinha uma vida de ostentação. Para isso, ele utilizava o nome falso de John Lucca Braz da Silva, inclusive nas redes sociais.

'Magão' seguiu o comparsa, pulou de estado em estado, e usufruiu do luxo até ser preso. Nas redes sociais, mesmo a distância, ele realizava tratativas frequentes para que a droga contratada pela facção chegasse ao Ceará.
Devido à prisão, o Gaeco denunciou 'Barrinha' pelos crimes de organização criminosa, posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, receptação e uso de documento falso, no dia 7 de maio deste ano; e 'Magão' por organização criminosa, tráfico de drogas e uso de documento falso, três dias depois.
O primeiro já respondia a processos por homicídio qualificado, crimes do Sistema Nacional de Armas, extorsão mediante sequestro e roubo; e o segundo, por tráfico de drogas, homicídio qualificado, roubo e receptação.
Outros líderes
Deijair, o 'De Deus', é apontado pela Polícia como o número 1 dos Guardiões do Estado e o mandante da 'Chacina das Cajazeiras'. Ele foi detido em um apartamento de luxo, no bairro Cocó, em Fortaleza, em 19 de fevereiro do ano passado, e depois transferido a um presídio federal. O líder máximo da facção estava solto devido à compra de um habeas corpus por R$ 150 mil, concedido pelo desembargador Carlos Rodrigues Feitosa, em um plantão do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) em 2013 - investigação da Polícia Federal que ficou conhecida como 'Operação Expresso 150'.
'Branquinho' costumava ostentar com veículos de luxo e foi capturado em uma academia de ginástica na Aldeota, na Capital, em 10 de outubro último. Ele responde a processos por homicídio, organização criminosa, crimes do Sistema Nacional de Armas, roubo e furto.
Já Yago 'Gordão' foi preso em um imóvel de alto valor, na Praia de Ponta Negra, em Natal (RN), em dezembro do ano passado. Ele esteve naquele Estado com 'Barrinha' e 'Magão' antes de ser detido. Contra o chefe da facção, há processos por homicídio e crimes do Sistema Nacional de Armas.
Os investigadores suspeitam que os Guardiões do Estado tenham cerca de 20 líderes. Abaixo da Sintonia Final, existe a Sintonia Final da Quebrada - Conselheiros. Cinco integrantes desse núcleo (os irmãos Noé de Paula Moreira, o 'Gripe Suína', e Misael de Paula Moreira, o 'Afeganistão'; Auricélio Sousa Freitas, o 'Celim da Babilônia'; Zaqueu Oliveira da Silva, o 'Macumbeiro'; e João Paulo Félix Nogueira, o 'Paulim das Caixas') foram detidos por participação na 'Chacina das Cajazeiras'.
Além deles, foi capturado, nos últimos meses, outro líder e fundador da GDE, Marcos da Silva Pereira, o 'Marquim Chinês'. Agora, o desafio das autoridades é frear a substituição de lideranças.

Diario do Nordeste

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