OPINIAO: Prêmio Nobel da Paz, uma surpresa ?

Abiy Ahmed Ali (esq), Lula (Centro), Greta Thunberg (Dir)

Para surpresa de zero pessoas, o Prêmio Nobel da Paz de 2019 não foi outorgado a Lula. Nem para a Greta Thunberg, nem para o Raoni Metuktire, ambos personagens midiáticos, mas para o Primeiro Etíope Abiy Ahmed Ali, um militar, engenheiro, mestre em liderança, PhD em estudos pela paz e segurança e evangélico membro de uma igreja pentecostal!

O Comitê do Nobel já escorregou algumas vezes, mas é muita ilusão da militância achar que o Lula, uma figura, no mínimo controversa, apesar do seu prestígio internacional, mereceria um Prêmio por contribuição pela paz. Ele não tem nenhuma e não importa a qualidade do seu governo.
E a Greta. Primeiro que não há consenso científico de uma relação linear entre mudança climática — ou escassez de recursos, de maneira mais ampla — e conflitos armados. 
Em geral, na sociedade moderna, os conflitos levam à escassez de recursos e não o contrário. E o Prêmio da Paz agracia personalidades envolvidas em resoluções de conflitos e pacificismo. Segundo que não há, objetivamente, nenhuma contribuição do ativismo da jovem para a paz no mundo. Ela pode servir de inspiração, mas discursos inflamados na ONU não mudam o mundo. 
O Primeiro-Ministro etíope é outro nível. Vejamos os motivos.

Imaginem um país onde metade da população sofre de subnutrição crônica; onde a taxa de mortalidade infantil é alarmante (77 óbitos a cada mil nascidos vivos) e o índice de analfabetismo é de 64%. Onde beber água lamacenta é algo comum. Há cerca de 30 anos, a Etiópia foi atacada por uma fome generalizada, agravada pela seca e pela disputa entre a guerrilha da província separatista da Eritreia e as forças oficiais do governo. As fotos de crianças famintas e esqueléticas geralmente são provenientes desse país. A Etiópia e a Eritreia são dois dos países com os menores IDH do mundo e estavam em conflito desde 1961. 
Imaginem uma país desse torrando milhões de dólares do seu PIB em um conflito de três décadas com seu vizinho? 

O governo da Etiópia lutou contra forças separatistas da Eritreia antes e durante a guerra civil etíope. A Guerra de Independência da Eritreia durou 30 anos e deixou um saldo de 600 mil civis e cerca de 150 mil soldados mortos. 
Após um golpe marxista-leninista na Etiópia em 1974, que derrubou a antiga monarquia, os etíopes contaram com o apoio da União Soviética até o final da década de 1980. Em abril de 1993, num referendo apoiado pela Etiópia, o povo eritreu votou quase por unanimidade pela independência. O reconhecimento formal do Estado independente e soberano da Eritreia aconteceu nesse ano, mas não sem outras duas guerras civis. 

Uma nova guerra entre os dois países começou em maio de 1998 e durou pouco mais de dois anos, até junho de 2000. Tudo por que pequenas mudanças de fronteira, mas provocou dezenas de milhares de vítimas - cerca de 150 mil, e teve participação de grupos rebeldes islâmicos afares, apoiados pela Etiópia e Eriteia. Conflitos armados continuaram acontecendo após o ano 2000. Os dois países, finalmente, encerraram formalmente o conflito em 9 de julho de 2018, assinando um acordo conjunto para retomar relações diplomáticas pacíficas. O atual primeiro-ministro da Etiópia, mal havia assumido seu mandato, em abril de 2018, e logo forjou um tratado de paz efetivo e há muito aguardado, selando um pacto com o presidente da vizinha Eritreia, Isaias Afwerki, para pôr fim a décadas de tensão militar entre os dois países. 

O agraciado com o Nobel da Paz é o mais jovem chefe de estado dos países africanos: tem 43 anos. Ele aplicou medidas democráticas para modernizar o histórico político complicado da Etiópia. Concedeu anistia a dissidentes políticos, libertou jornalistas encarcerados, nomeou mulheres para 50% dos cargos de seu gabinete e encabeçou a campanha para o plantio de 350 milhões de árvores na Etiópia.Foi ministro da ciência e tecnologia antes de assumir o poder e mediou conflitos entre cristãos e muçulmanos através da criação de um fórum de diálogo religioso.

Prêmio mais que merecido!

Samuel Fernando - Engenheiro de Computação Neural / UFABC

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