Investigações conduzidas por
policiais civis e federais apontam que assaltantes ligados ao PCC (Primeiro
Comando da Capital), a maior facção criminosa do país, planejaram e tiveram
participação nos seis maiores roubos e ataques a bancos da história do Brasil.
Vale lembrar que o criminoso
apontado pelas autoridades como o atual chefe da organização — Marco Willians
Herbas Camacho, 53, o Marcola — era considerado um dos maiores assaltantes de
bancos do país nos anos 1990. Marcola sempre negou todas essas acusações.
As ações aconteceram nos
estados do Ceará, Santa Catarina e São Paulo entre os anos de 2005 e 2020.
Nesse intervalo de 15 anos, os ladrões do PCC levaram, nos seis ataques, R$ 1
bilhão em dinheiro, ouro e joias roubados e furtados de bancos e do terminal de
cargas do aeroporto internacional de Guarulhos.
O último grande assalto
aconteceu em 30 de novembro do ano passado em Criciúma, Santa Catarina, e foi
um dos mais violentos.
Segundo a Polícia Civil
foram roubados R$ 125 milhões do SERET (Serviço Regional de Tesouraria) do
Banco do Brasil.
Um grupo de 30 ladrões
causou medo e terror à população da cidade durante duas horas. Foram disparados
muitos tiros de fuzis e metralhadoras. Os criminosos bloquearam ruas e
cruzamentos, fizeram reféns, incendiaram veículos e sitiaram o 9º Batalhão da
Polícia Militar.
O bando queimou um caminhão
com explosivos na entrada do quartel da PM. Houve confronto e o soldado da
policial militar Jeferson Luiz Esmeraldino, 33, ficou gravemente ferido ao ser
atingido por um tiro de fuzil. Os assaltantes usaram 10 veículos blindados para
chegar à tesouraria do banco, na avenida Getúlio Vargas.
Antes de fugir, a quadrilha
deixou explosivos espalhados pela cidade e ao redor da agência bancária. Os
artefatos podiam ser detonados à distância, por controle remoto. As forças de
segurança identificaram 16 pessoas acusadas de participar do crime e prenderam
12 delas.
Dos 16 identificados, 13
moravam em São Paulo e três em Santa Catarina. A Polícia Civil apurou que os
mentores do assalto foram Márcio Geraldo Alves Ferreira, 39, o Buda, Francisco
Aurílio da Silva de Melo, 56, o XT, e André Luiz Meza Costa, 46, apontados como
integrantes do PCC.
Os três são de São Paulo e,
de acordo com seus advogados, eles jamais fizeram parte do PCC. Buda está preso
na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) e XT e Meza, na Penitenciária de
Mossoró (RN).
Ação semelhante em Ourinhos
Seis meses antes do roubo de
Criciúma, em 2 de maio de 2020, a população de Ourinhos (SP) também passou por
momentos de pânico e terror em uma ação semelhante. Uma quadrilha formada por
ao menos 40 pessoas usou explosivos para roubar o SERET do Banco do Brasil.
As bases policiais da cidade
foram cercadas. Os criminosos fizeram reféns e balearam uma vítima na perna. O
bando fugiu levando R$ 50 milhões. Peritos da Polícia Federal colheram
impressões digitais nos cilindros de oxigênio e respiradores usados pelos
criminosos durante as explosões.
Agentes federais
identificaram Tiago Ciro Tadeu Faria, 38, o Gianechini", como um dos autores
do roubo. Ele está preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), um
dos mais fortes redutos do PCC.
A defesa de
"Gianechini" diz que ele é inocente, não tem envolvimento com
apreensão de explosivos, não participou de nenhum assalto, encontrava-se em
casa no dia do roubo e, portanto, não poderia estar na cena do crime.
Barras de ouro
Mas, segundo a PF, a
quadrilha de "Gianechini" tem ligações com o bando de Francisco
Teotônio da Silva Pasqualini, 56, conhecido como "A mente do crime",
apontado como integrante do PCC e como mentor do roubo de 734 kg de ouro do
terminal de cargas do aeroporto internacional de Guarulhos.
O assalto aconteceu em 25 de
junho de 2019. As barras de ouro e joias levadas pelos ladrões foram avaliadas
em R$ 117,5 milhões.
A Justiça condenou quatro
assaltantes acusados de envolvimento no crime. Francisco recebeu uma pena de 39
anos e sete meses.
As investigações da PF
constataram que Marcelo José de Lima, 45, o Febronho, que também participou do
roubo de ouro em Guarulhos, atuou em um assalto milionário contra a Prosegur no
Paraguai, em 24 de abril de 2017. Ele foi preso em novembro de 2019 e morreu de
câncer no ano passado.
Nove meses antes do roubo à
Prosegur do Paraguai, ladrões explodiram a sede da mesma empresa na cidade de
Ribeirão Preto (SP) e roubaram R$ 51 milhões. A ação deixou dois mortos. Um
deles era policial militar.
O líder do bando, Diego
Moura Capistrano, 37, o "Jovem", foi apontado pela Polícia Civil
paulista e pelo Ministério da Justiça como o mentor do assalto em Ribeirão
Preto e como suspeito ao ataque da Prosegur no Paraguai.
A Justiça o condenou a 136
anos. Antes de ser preso na região de Belo Horizonte (MG), em novembro de 2020,
"Jovem" sacou R$ 600 do auxílio emergencial do
governo federal, segundo reportagem do Fantástico.
Túnel e cofres
Outros dois grandes crimes
de repercussão atribuídos a integrantes do PCC aconteceram, respectivamente, em
28 de agosto de 2011, contra o Itaú da avenida Paulista (SP) e em 6 de agosto
de 2005 contra a agência do Banco Central de Fortaleza (CE).
Assaltantes que cumpriram
pena com integrantes do PCC renderam um vigia, arrombaram 161 cofres da agência
do Itaú e roubaram R$ 500 milhões em joias, metais preciosos, canetas e
relógios de ouro, dólares e outras moedas estrangeiras. Cinco réus foram
condenados a 18 anos e oito meses de prisão. Esse foi o maior dos roubos.
Do Banco Central de
Fortaleza, ladrões ligados ao PCC levaram R$ 164,7 milhões sem disparar um
tiro. Foi o maior furto já registrado contra uma instituição financeira
brasileira.
Para chegar ao cofre da
agência, o bando alugou uma casa nas imediações e cavou um túnel de 80 metros
de extensão. Eram tantas as cédulas furtadas que, empilhadas, elas chegariam a
uma altura de 33 metros. Os assaltantes do PCC foram identificados, presos e
condenados.
UOL