Praia Bitcoin: uma experiência com Bitcoin em Jericoacoara

 


Ao noroeste do estado do Ceará, localizada a cerca de 300km da capital Fortaleza, está a paradisíaca vila de Jericoacoara. Um paraíso encravado no litoral cearense, a praia possui a pesca, surfe e kitesurfe como suas principais atrações.

No entanto, a bucólica vila recentemente ganhou um atrativo a mais, sobretudo para os bitcoinheiros. Foi neste local que teve início um dos experimentos mais inovadores e empolgantes em vigor no Nordeste brasileiro: a Praia Bitcoin.

Inspirado no sucesso da Bitcoin Beach de El Zonte, em El Salvador, o empresário Fernando Motolese escolheu a famosa praia cearense. De fato, o projeto chamava-se originalmente Bitcoin Beach Brasil, mas teve seu nome alterado para Praia Bitcoin.

O objetivo, contudo, é o mesmo: fornecer aos turistas e microempresários de Jeri, como é carinhosamente conhecida a praia, uma alternativa universal e descentralizada de pagamento por seus serviços.

Mas será que o litoral nordestino pode florescer e se tornar um pólo no uso do BTC como moeda? O CriptoFácil foi atrás dessa resposta através de uma parceria com a cearense Gabriela Barreto. Advogada, professora, escritora, colunista e forte entusiasta da tecnologia blockchain, Gabriela esteve in loco e experimentou o uso do BTC como moeda, além de ter conversado com o organizador e comerciantes locais da Praia Bitcoin.

Portanto, esta matéria será dividida em duas partes. Na primeira, o organizador da Praia Bitcoin conta como surgiu a ideia, sua implementação e os resultados obtidos até agora. Na segunda parte, Gabriela conta sua experiência na prática através do uso do BTC em Jericoacoara e também em conversas com os moradores e lojistas do local.

Fruto da quarentena

Segundo Motolese, a ideia do projeto começou nascer durante a quarentena causada pela pandemia de Covid-19. O empresário é natural de São Paulo, entretanto mora há dois anos em Jericoacoara e criou um forte laço com a comunidade local.

Nesse sentido, Motolese identificou um grande problema: a ausência completa de bancos na vila. Sim, embora Jericoacoara tenha recebido quase 670 mil turistas entre os anos de 2019 e 2020, a cidade não dispõe de nenhuma agência bancária. 

O caso era ainda pior para os moradores, que precisam se deslocar para poder ir a uma agência bancária. Com essa ausência, Motolese resolveu olhar para o futuro e escolher o Bitcoin (BTC) como ferramenta de liberdade financeira. E tudo isso ocorreu em uma data muito simbólica.

“Nosso experimento de micropagamentos começou em 8 de setembro de 2021, um dia depois de El Salvador adotar o Bitcoin como moeda de curso legal. Desde então estimamos que mais de 120 usuários criaram carteiras e receberam pequenas quantias em bitcoin. Além disso, cerca de 15 estabelecimentos passaram a receber bitcoin como forma de pagamento”, explica.

Motolese explica que a princípio tentou contato com a organização da Bitcoin Beach em El Zonte, mas não recebeu resposta. Dessa forma, ele decidiu começar o projeto aos poucos mesmo sem este apoio, porém, em janeiro de 2022 a Bitcoin Beach e a Galoy Money, desenvolvedora da carteira utilizada em El Zonte, doaram 0.042 BTC para a iniciativa brasileira.

Escassez de apoio

E realmente apoio foi algo que o projeto demorou para conseguir. A Praia Bitcoin teve uma doação inicial de apenas 0.02 BTC, cerca de R$ 6.000 (Seis mil reais) cotação de quando foi criado o experimento. Para se ter uma ideia, a Bitcoin Beach começou com 12 BTC. 

Mas isso não freou o entusiasmo do organizador do projeto, pelo contrário. Com esta doação inicial, os primeiros apoios foram dados, voltados sobretudo para os moradores e pequenos empreendedores da região.

“Ajudamos os artistas de rua, artesãos, trabalhadores ambulantes e moradores da vila a terem acesso ao Bitcoin. Além disso, rodamos nosso próprio Nó Lightning e Bitcoin, oferecendo um ponto de contato da nossa comunidade com a comunidade mundial”, explica Motolese.

Nordeste inovador

O caráter da Praia Bitcoin revela uma tendência inovadora das cidades do Nordeste no mercado de criptomoedas. Recife, capital de Pernambuco, possui um grande pólo nesse sentido, enquanto a pequena Aracaju, no Sergipe, já foi a cidade brasileira com mais estabelecimentos que aceitavam BTC como pagamento.

Parte desse pioneirismo é causado justamente pelo problema identificado por Motolese. Conforme apontam dados de 2019, dos 45 milhões de brasileiros que não possuem conta em banco, 39% moram no Nordeste.

Ou seja, a região é a que mais sofre com a falta de serviços bancários – algo que o BTC surgiu para consertar.

“Nosso foco sempre foi o trabalho social, levar o bitcoin ao desbancarizado e executar o máximo potencial da tecnologia, usando-a como forma de inclusão. Como é um local turístico os lojistas acabam usando também como ferramenta de marketing para atrair turistas e estrangeiros”, explica Motolese.

“O povo daqui do Nordeste, está preparado para o novo, e temos um ambiente perfeito com oportunidades infinitas. Não acredito que haverá uma adoção em massa de outras criptomoedas, acredito apenas no Bitcoin como forma alternativa de dinheiro. Com ajuda da Lightning em breve o Bitcoin pode chegar aos quatro cantos do mundo, as outras criptomoedas não, pois são cópias, e sempre serão falsificações do Bitcoin, com alguma inovação, mas sem relevância suficiente para atender toda massa populacional e oferecer a segurança que o Bitcoin oferece”, finaliza.

E agora, chegou a hora de conferir um relato completo e prático da experiência de utilizar BTC na Praia Bitcoin.

Gabriela Barreto: experiência inovadora e tecnológica

Gabriela Barreto ficou encantada com o número de empresários e comerciantes locais que aderiram ao projeto praticado por Motolese na vila, abrindo novas oportunidades globais de negócios, bem como os mesmos buscam estudar sobre os investimentos da criptomoeda desde a operação segura e célere, sua alta e baixa no mercado financeiro, instruindo e educando a sociedade como um todo.

De acordo com a advogada, o projeto da Praia Bitcoin obteve uma grande adesão da comunidade. Nesse sentido, iniciativas comerciais, entre estabelecimentos e serviços, já utilizam o BTC como meio de pagamento.

E essa aceitação não se resume a serviços de grande porte. Artesãos, vendedores ambulantes, padarias e barracas de praia também se engajaram no uso da criptomoeda. Restaurantes renomados, cafés, sorveterias, supermercado, padaria, baladas, barracas de praias, coqueteleiros e pousadas, idem.

Até mesmo projetos sociais se encaminharam nesse sentido. No caso da Praia Bitcoin, o apoio a um projeto social educacional de uma escola de surf para auxiliar crianças e adolescentes carentes na região que recebem doações ao aceitarem Bitcoin.

Como resultado da iniciativa, a praia tem atraído a atenção de várias pessoas que buscam entender como esse ecossistema funciona. Foi o caso de dois nômades digitais que estiveram presentes no famoso restaurante da Dona Amélia, um dos mais famosos entre os que aceitam BTC. O pagamento do nosso jantar foi realizado totalmente com BTC.

Novos Horizontes

Atualmente, a Praia Bitcoin é o pioneiro e mais bem-sucedido exemplo desse tipo no Brasil. Mesmo com pouco apoio, o projeto tem prosperado e ajudado a mudar as vidas de dezenas de pessoas, bem como serviu de inspiração para outras comunidades a criarem economias locais voltadas para o BTC.

“Natal e Belo Horizonte já possuem voluntários que estão rodando nós completos de bitcoin com ajuda da iniciativa brasileira e seguindo o manual passo a passo para replicar a iniciativa cearense que em breve serão publicados no livro, “Monte um Banco Padrão Bitcoin” escrito por Motolese.

Criptofacil

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