A espécie conhecida como peixe-leão permanece na propagação rápida e peculiar pelo litoral cearense. Na última semana, a Praia do Iguape e a Praia do Pecém registraram a presença do bicho. Esse avanço ameaça o trabalho de pescadores e a vida de espécies nativas - em pouco mais de 3 meses, já aparece em metade dos municípios de praia.
Mais de 100 bichos foram recolhidos para pesquisa sobre a origem e detalhamento de quais peixes nativos são comidos pelo invasor. Os primeiros aparecimentos aconteceram no Litoral Oeste, como as praias de Camocim e de Jericoacoara, no início de março deste ano.
Depois surgiram no outro extremo do Estado, no Litoral Leste, em Icapuí e Aracati. Agora no Litoral da Grande Fortaleza: Iguape e Pecém. Isso indica a possibilidade da espécie chegar em todo o litoral nos próximos meses.
PRAIAS COM A PRESENÇA DO PEIXE-LEÃO NO CEARÁ
Barroquinha
Bitupitá
Camocim
Cruz
Jijoca de Jericoacoara
Acaraú
Itarema
Icapuí
Aracati
Iguape
Pecém
Já detectamos nos extremos e os dados mostram que, aparentemente, nos próximos meses eles vão ocupar a parte central, na Região Metropolitana de Fortaleza", alerta Marcelo Soares, membro do grupo de pesquisas sobre o peixe-leão pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O risco continua sendo maior para os pescadores, para os banhistas não há nenhum risco. Todos os registros nós recebemos de pescadores e em profundidades significativas de 10 a 15 metros
MARCELO OLIVEIRA
Pesquisador
O peixe-leão também já havia saído da água salgada e chegado no estuário do Rio Timonha, em Camocim, na região norte do Estado. Isso significa que o invasor pode comer peixes no local de reprodução das espécies nativas.
Os animais já aparecem com quase 30 centímetros e cerca de 58% deles são encontrados em ambientes artificiais de pesca, como foi publicado em artigo científico na revista Frontiers in Marine Science.
Ainda em análise, existe a possibilidade dos peixes nos municípios do Norte do Ceará terem vindo pela Amazônia. Já os bichos no Litoral Leste, a hipótese aponta Fernando de Noronha como origem. O peixe-leão tem a característica de nadar contra a corrente.
Integram o grupo de pesquisa a UFC, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
PESCADORES PARCEIROS DA CIÊNCIA
Outro grande parceria para entender o avanço do peixe-leão no Ceará acontece com o apoio dos pescadores dos municípios onde já há a presença do bicho. Durante o trabalho, os peixes encontrados são levados até os laboratórios para análise.
Um desses pontos é o IFCE Campus Acaraú onde existem cursos técnicos na área da pesca e também há uma relação mais próxima com os pescadores, como analisa a professora na Instituição e doutora em biologia marinha Rafaela Camargo Maia
"Sensibilizados por redes sociais, palestras, visitas às comunidades e pela rádio, além das parcerias que a gente já tinha com as comunidades pesqueiras. Quando eles coletam, congelam os animais e a gente vai buscar ou eles entregam na Instituição", detalha.
A gente pode trabalhar com dados para ver a dispersão, saber o que esse animal está comendo. A partir disso, podemos construir um mapa e ajudar os órgãos gestores no gerenciamento do problema, que é a introdução de espécies exóticas
RAFAELA CAMARGO MAIA
Doutora em biologia marinha
São retiradas amostras dos peixes recebidos para estudos genéticos. Os pesquisadores buscam entender precisamente de onde esses animais vêm e que espécies eles estão se alimentando. O peixe-leão come, por exemplo, peixes nativos.
“A gente processa e envia para o Labomar onde são feitas outras análises que estão compondo um banco de dados para o gerenciamento do problema na costa do Ceará", completa Rafaela.
Diário do Nordeste