Educadora Núbia Rocha, de Santana do Acaraú, dá detalhes sobre táticas de preparação para o exame do Enem e ter capacidade para argumentar sobre os assuntos da redação
A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é algo que pode gerar muitas expectativas entre os vestibulandos. Durante o ano letivo, professores e estudantes convivem com a ansiedade e as especulações a respeito do tema.
A professora Núbia Rocha, 58, da Escola de Ensino Médio (EEM) Nazaré Severiano, localizada em Santana do Acaraú, acertou o tema da redação do exame de 2021 e eixo temático de 2022.
Em entrevista ao O POVO, ela deu detalhes sobre as táticas de preparação para a prova e ter boa capacidade de argumentação sobre os assuntos da redação.
A estrutura da redação do Enem exige que os vestibulandos sigam o modelo de dissertação argumentativa, que consiste na defesa de uma ideia por meio de explicações fundamentadas. Dado o tema da redação, Os desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil, os estudantes precisaram desenvolver argumentos para defender os pontos de vista no texto.
"Eu sei que o tema da redação será sempre voltado para uma questão social, que busca jogar luz sobre uma realidade que está sendo negligenciada. Então ou há uma exclusão ou há ignorância com relação ao tema da redação”, conta a professora.
O tema da redação do Enem 2021 foi "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil".
Para ela, o vestibulando que deseja mais do que especular sobre o tema, como também ter argumentos para desenvolver um texto sobre o assunto, precisa acompanhar diversos canais de informações. “Estou sempre de olho nos portais de imprensa, acompanho os projetos de lei que estão em trâmite, acesso os portais do Governo e vejo os lançamentos de documentários atuais".
A elaboração das aulas da professora de redação estão acompanhadas do exercício do pensamento crítico. "Em relação ao tema deste ano, vi que havia um projeto de lei em prol das questões dos ciganos. Eles estavam reivindicando o direito de participar do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e das políticas públicas de reconhecimento".
"Outro assunto sugerido em sala de aula foi o caso Bruno e Dom. Na ocasião, discutimos sobre o papel do ativista ambiental, voltado não só a proteção do ambiente físico, mas dos seres que vivem naquele ambiente”.
Além disso, a educadora havia feito a leitura da obra literária Torto Arado, romance do escritor Itamar Vieira Júnior, junto com os alunos. O livro, cujo enredo ressalta a importância das comunidades tradicionais, foi lido, interpretado e discutido em encontros presenciais e virtuais, chamados de “Tertúlias literárias dialógicas”. Cada aluno ficava responsável pela apresentação de um capítulo.
Esta é a segunda vez consecutiva que a professora realiza o feito. No ano passado, Núbia havia acertado o tema cobrado na prova de redação do Enem 2021, tendo exercitado em sala de aula, de maneira antecipada, o tema da “invisibilidade social associada à falta de documentos pessoais”.
“O mais importante não é acertar o tema em si. Eu procurei construir, junto aos alunos, uma consciência sobre a importância desses povos. Os temas que trato em sala não são escolhidos com base em achismo, ou retirados de plataformas de redação. São fruto de muita pesquisa”, explica Núbia.
A professora conta que a dedicação quase integral à função de educadora vem da intenção de dar visibilidade à escola pública. “As pessoas têm uma má impressão sobre a educação pública. Acham que a gente não é bem informado, não estuda. No entanto, nossa escola conta com figuras conscientes, politizadas e competentes. A gente precisa e merece ser valorizado".
Pós-prova
Ela conta que quando soube do tema da redação foi um momento de muita alegria. “Eu vibrei com esse tema. Há muito tempo, os povos tradicionais precisam de mais visibilidade. São grupos que estão desrespeitando, e estão vulneráveis. Nós precisamos continuar levantando essa conscientização. O Enem deste ano acertou em cheio. O Brasil tem uma dívida enorme com ribeirinhos, indígenas, pescadores, extrativistas e os povos de terreiros".
Em conversa com O POVO, ela compartilhou as mensagens recebidas pelos alunos da escola, no grupo de WhatsApp. “Quando eu li a proposta da redação, eu pensei ‘a professora bota quente mesmo, acertou mais uma vez’”, comentou o estudante Matheus Rocha.
Outro estudante também vibrou com o resultado das aulas da professora: “Incontestável que a nossa excelentíssima acertou, sim, o tema da redação! Usei os mesmos repertórios e argumentos do tema passado poucas semanas atrás! A questão do extrativismo e dos seringueiros, que tinha até nos dados dos textos motivadores”, disse Nicolas Matheus.
O Povo