Responsável pela contabilidade de facção desviou parte do dinheiro reservado para plano de atentado contra Moro


 

O pedido de prisão preventiva apresentado pela Polícia Federal à Justiça Federal no Paraná contra os suspeitos de estruturar um plano para atentar contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) menciona desvio de recursos dentro da facção criminosa responsável pela ação.

De acordo com relato do delegado Martin Bottaro Purper, o suspeito Claudinei Gomes Carias alugou uma casa em Curitiba (PR) junto ao chefe do grupo responsável pelo planejamento do sequestro e execução do ex-juiz da Lava-jato, Janeferson Aparecido Mariano. Claudinei, segundo as investigações, estava incumbido de prestar contas ao comando da organização criminosa.

Os policiais reproduziram no pedido apresentado à Justiça diálogos entre Claudinei e uma pessoa referida apenas como “Milco”, não identificado pelos investigadores, mas considerado “hierarquicamente superior” a Claudinei dentro da organização criminosa.

Em um dos áudios, “Milco” diz que os valores informados por Claudinei estavam elevados. “Tô achando que tá dando muito”, afirma o criminoso. Para a Polícia Federal, as mensagens deixam “evidente que parte dos investigados desviou valores para proveito próprio”.

Em outro áudio, “Milco” reclama por não ter recebido de Claudinei o detalhamento de gastos no prazo combinado. Ele cita haver uma cobrança da “financeira da Bolívia”, o que, segundo os investigadores, comprova que o “dinheiro recebido pelos investigados vem, naturalmente, do tráfico de drogas”.

“Não sei qual é a dificuldade, o dia inteiro, aí, mano. (…) Nós tá (sic) pedindo desde uns dias a parada, não tá dando atenção, boy. Fala pra ele que você vai jogar do jeito que tá

aí. Depois ele vai trocar umas ideia (sic) com os irmãos da financeira, lá da Bolívia lá, boy. Não vai ser comigo não, entendeu? Maior falta de responsabilidade, do caralho. Preciso dessa parada, aí, filho”, diz “Milco” na ocasião.

O criminoso, em outra mensagem, pede o envio do detalhamento dos gastos de Claudinei com diversas finalidades. Entre elas, são citados “Flamengo” e “Tokio”. Anotação encontrada em conversas de Janeferson Aparecido Mariano mostram que “Flamengo” é um código para “sequestro”, enquanto “Tokio” é o codinome atribuído a Sergio Moro.

Além de ter a atribuição de prestar contas ao grupo criminoso, Claudinei também era responsável “pelas vigilâncias e levantamentos” sobre o senador, segundo a polícia. Os investigadores tiveram acesso a um vídeo gravado por Claudinei no dia 3 de fevereiro deste ano. A filmagem mostra a fachada do prédio onde Moro tem apartamento, na capital paranaense.

Ao todo, a facção criminosa que planejou o atentado contra o senador gastou quase R$ 3 milhões com a empreitada, frustrada pela operação deflagrada pela Polícia Federal na quarta-feira. Além de Moro, também seria alvo do plano o promotor de São Paulo Lincoln Gakiya, que investiga a organização criminosa paulista há cerca de duas décadas.

Claudinei, Janeferson e mais 12 pessoas tiveram a prisão preventiva decretada pela juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de Curitiba.

O Globo

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