"Você está velho para isso; isso é coisa de velho; é um velho gaga; velho não tem que usar esse tipo de roupa". Pode ser que em algum momento você já tenha usado ou se deparado com alguma dessas expressões. Essas frases são classificadas como etarismo.
Mirian Goldenberg, antropóloga e pesquisadora há mais de 30 anos do tema envelhecimento e felicidade, explica que etarismo é a discriminação e o preconceito – podendo resultar em violência verbal, física ou psicológica – relacionado com a idade de uma pessoa.
''Quando a pessoa atinge uma certa idade, a sociedade, como um todo, começa a enxerga-la como frágil, que não serve mais. É preciso mudar a mentalidade", diz Mirian Goldenberg.
Na última semana, deputados distritais de Brasília aprovaram a mudança na imagem que representa pessoas idosas na demarcação de vagas de estacionamento, filas preferenciais, assentos e outros serviços, onde quem pessoas acima de 60 anos têm prioridade por lei. Na ilustração proposta pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), a figura do idoso curvado e de bengala é substituída por outra, onde ele aparece caminhando, com a descrição "60+"
Para Mirian Goldenberg, a sociedade acredita que a vida do idoso "não vale de nada", uma vez que só se valoriza aquilo que é jovem, produtivo e bonito. Em suas palavras, Mirian acredita que vivemos uma sociedade "velho fóbica" o que reflete na falta de políticas públicas e cuidados com os idosos.
Dentro de casa
Uma pesquisa de 2019, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE), apontou que a população entre 60 e 64 anos é a mais afetada pela depressão, que atinge 13,2% dos idosos do Brasil. Para Mirian Goldenberg, esse índice pode ser justificado pela "extrema proteção" – ou pelo abandono –vindo da família que, muitas vezes, também comete abusos psicológicos, físicos e financeiros.
''A extrema proteção dos filhos pode ser prejudicial à vida do idoso, que começa a sentir que está perdendo a autonomia'', diz Mirian.
A pesquisadora explica que 50% da violência contra os mais velhos é praticada pelos filhos e 10% pelos netos. ''É um preconceito praticamente invisível e não é falado. Então, essas pessoas ficam com vergonha e medo de denunciar esses abusos por não saberem que acontece com outras pessoas'', aponta.
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) divulgou, em junho, um balanço de dados do Disque 100. Segundo o levantamento, de janeiro a 2 de junho de 2022 foram registradas mais de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra pessoas idosas.
Em 87% das denúncias (30.722), as violações ocorrem na casa onde o idoso mora. Destas, 16 mil ocorreram na casa onde residem a vítima e o suspeito.
Entre os agressores, os filhos são os principais responsáveis pela violação, figurando como suspeitos em mais de 16 mil registros. Depois, estão vizinhos (2,4 mil) e netos (1,8 mil).
O etarismo no dia a dia
No dia a dia, pode-se verificar o etarismo em postagens de candidaturas de vagas de emprego com limite de idade ou em frases como "Você está velho para isso". A cantora Madonna fez um desabafo sobre o preconceito que muitas mulheres de idade avançada sofrem por quererem viver a vida da maneira que querem.
"Ridícula; não aceita a idade; se veste como adolescente; não sabe envelhecer" são algumas das expressões que Madonna diz mais ler em suas redes sociais.
Em setembro passado, a resposta de uma recrutadora em um e-mail enviado a um candidato a uma vaga de emprego. em Florianópolis, viralizou no LinkedIn. Após enviar o currículo se candidatando a uma vaga sem limite de idade, a pessoa recebeu como resposta: "Cancelaaaaaaaa, passou da idade [sic]".
''É um trabalho de formiguinha. Os jovens precisam entender que amanhã podem ser eles sofrendo. Então, para mudar, é necessário que mudem essa mentalidade de que quando você envelhece acabou. A velhice é o momento de florescer muito mais'', diz Mirian Goldenberg.
Como denunciar
As denúncias de violações de direitos humanos podem ser feitas de maneira anônima pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100.
A central recebe ligações diariamente, 24h, inclusive nos finais de semana e feriados. As denúncias podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita para o número 100, pelo WhatsApp (61) 99656-5008, ou pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil, no qual o cidadão com deficiência encontra recursos de acessibilidade para denunciar.
G1