Mundo tem mais ditaduras do que países com democracia plena pela 1ª vez desde 1995, aponta relatório



 Os níveis globais de democracia caíram em 2022 para patamares mais baixos do que em 1986 e o número de Estados comandados por ditaduras se tornou maior do que o de democracias plenas pela primeira vez desde 1995, segundo o relatório anual sobre democracia feito pelo instituto sueco V-Dem, ligado à Universidade de Gotemburgo.

A pesquisa é considerada uma referencia na medição dos níveis de regimes políticos no mundo e os divide em quatro vertentes: democracias plenas, democracias falhas, autocracias eleitorais e ditaduras.

Para classificar mais de 180 países nesses critérios, o instituto avalia itens como liberdade de imprensa, independência entre os poderes, repressão policial e integridade do sistema eleitoral, entre outros.

De acordo com o relatório, divulgado no mês passado, o número de democracias plenas no mundo caiu de um ápice de 44 em 2009 para 32 no ano passado. Já o número de ditaduras, que em 2012 estava em seu número mais baixo – 22 – em 2012, subiu para 33. Exemplos de democracias plenas citados pelo estudo são a França a Alemanha e os países nórdicos. As ditaduras incluem países como Nicarágua, China e Coreia do Norte.

O estudo ainda descreve um crescimento preocupantes de outros tipos de regime, as chamadas democracias falhas e autocracias eleitorais. Esses governos são uma espécie de modelo híbrido, nos quais existem ao mesmo tempo – em maior ou menor grau –características de regimes autocráticos e democráticos.

Enquanto as democracias falhas eram apenas 16 nos anos 70 e hoje são 58, as autocracias eleitorais eram 35 naquela década e hoje são 56. Exemplos de autocracias eleitorais são a Hungria e a Polônia, e de democracias falhas, o Brasil e a África do Sul.

Em termos populacionais, o levantamento mostra que 72% do planeta vive hoje em países não democráticos, sejam eles autocracias eleitorais ou ditaduras. Esse número é puxado pela China, uma ditadura comunista de 1,3 bilhão de pessoas, e sobretudo pela Índia, que se tornou recentemente o país mais populoso do mundo e tem vivido um declínio democrático sob o comando do primeiro-ministro Narendra Modi.

De acordo com o estudo, nove países se tornaram ditaduras nos últimos dois anos, com destaque para o Afeganistão, que conta com o grupo Taleban no poder desde 2021 e o Irã, que é governado por um regime teocrático que aumentou a onda de repressão à população por conta de diversos protestos relacionados à morte de Mahsa Amini, iraniana de 22 anos que havia sido deita pela polícia por supostamente não estar usando o hijab, o véu islâmico.

O relatório também alerta para a ocorrência de processos de autocratização, mesmo em democracias. Isso acontece quando os pilares democráticos de um país, como separação entre os poderes, liberdade de imprensa e alternância de poder, estão sendo corrompidos. Hoje 42 países que estão em declínio democrático, entre eles o Brasil. No ano passado, o número de países passando por este processo era de 33.

Foi o quarto ano seguido em que o relatório alertou para a queda de qualidade da democracia no Brasil, apesar de o País ainda ser listado como ‘democracia falha’ no estudo.

O estudo também mostra que o equilíbrio global do poder econômico entre autocracias e democracias está mudando, com os regimes autocráticos representando 46% do PIB global.

Em relação ao comércio, as exportações e importações de países autocráticos estão se tornando menos dependentes das democracias, enquanto a dependência das democracias em relação as autocracias dobrou nos últimos 30 anos.

Estadão Conteúdo

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