É a primeira vez que o ex-ministro e ex-governador comentou sobre a gestão petista, da qual seu partido, o PDT, compõe a base. Em Lisboa, presidenciável disse que ministro Haddad está "entregue à banqueirada"
– O Lula nunca quis mudar, não tem compromisso com a mudança do Brasil, é o responsável pelo reacionarismo dominante hoje no Brasil. Ganha com isso – disse.
Ciro comentou uma reportagem do GLOBO, que revelou que o senador Davi Alcolumbre (União-AP) indicou emendas sob suspeita de superfaturamento.
– A Codevasf está fazendo investimento superfaturado no Amapá neste governo. A direção e as práticas que estão lá são as mesmas, é por lá que se esvai o orçamento secreto. Como nós vamos fazer? Deu certo isso? É uma pergunta simples – criticou.
– Caramba, o Lula foi parar na cadeia. Será possível que não aprendemos nada? Ou nós acreditamos que Lula foi inocentado? Ele não foi. O Lula teve direito à presunção de inocência restaurada. É diferente de ser inocentado em um julgamento – disse.
Apesar disso, Ciro avaliou que Lula não teve "o devido processo legal".
O ex-ministro também disse que deseja que o governo acerte.
– Estou começando a ter prazer de falar e não posso voltar a ter esse prazer. Estou em processo de detox. Por favor colaborem nas perguntas. Os petistas moderem aí, não peçam para eu puxar. Eu estou dentro do barco, quero que acerte – observou.
Ele diferenciou o petista do ex-presidente Jair Bolsonaro.
– Claro que Lula e Bolsonaro são pessoas muito distintas. Com o Lula eu me sento para tomar uma cerveja e dizer essas verdades todas para ele. Com Bolsonaro, eu não saio – disse. Ciro também disse que ajudou Lula "a vida inteira" e que crê "estar ajudando ainda, embora de outro jeito."
Críticas a Campos Neto e Haddad
Ao comentar sobre a área econômica, além de Lula, Ciro criticou a gestão do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e desaprovou a indicação de Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo da Fazenda, para uma diretoria no BC.
– Esta demissão (do Campos Neto) tem que ser provocada pelo Conselho Monetário Nacional. Quem é? É o governo, é o ministro da Fazenda completamente entregue à banqueirada, que está indicando um banqueiro para direção nova do Banco Central, se chama Galípolo – disse.
Em outra crítica contra Haddad, Ciro comentou sobre a nova regra fiscal que está sendo analisada pela Câmara e foi construída pelo ministro.
– Quero saber se é justo que a gente faça um novo teto de gastos, com o nome arcabouço fiscal, um arrocho absoluto na taxa de inversão. Sabe qual é a taxa de investimento do Brasil hoje? A menor da história. Da União federal remanesce para investimento 0,75 de 1%. E isso significa ao redor de 24 bilhões, que é nada – declarou.
Quarto lugar na eleição presidencial do ano passado, Ciro está ausente do debate político nacional desde o resultado do segundo turno, em outubro, e não tinha feito nenhum comentário sobre o governo de Lula, que tomou posse há pouco mais de quatro meses. Seu partido está na base de Lula no Congresso e tem Carlos Lupi, presidente licenciado da legenda, como ministro da Previdência.
Da mesma forma que o irmão, o senador Cid Gomes Gomes (PDT-CE) já havia feito críticas ao governo e reclamou da forma como o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negocia com o Centrão.
Ciro Gomes tem um histórico de idas e vindas com o presidente. Ele foi ministro da Integração Nacional de Lula de 2003 a 2006 e apoiou Dilma Rousseff nas eleições de 2010 e 2014. No entanto, durante a disputa de 2018, após não ter conseguido o apoio do PT para concorrer ao cargo de presidente, passou a fazer uma série de críticas a Lula e ao partido.
Depois de disputar quatro corridas presidenciais, o ex-governador diz agora que não pretende mais disputar eleições. Ciro reconheceu que o resultado que obteve na última disputa não foi representativo e avalia que não o credencia para uma nova tentativa. Em 2022, ele teve 3% dos votos válidos. Cenário diferente de 2018, quando teve 12% e ficou em terceiro lugar.
– Quero me desintoxicar. Não é razoável, a partir de certo limite tem que ter uma humilde. Eu não represento uma corrente de opinião mais. Sou um democrata visceral mesmo. Alguma coisa está errada comigo, não é com o povo – disse.
Ciro afirmou que pretende contribuir com o partido no campo ideológico, mas sem disputar cargos.
– Eu dei ao povo brasileiro o meu viver. Vou morrer militando, vou achar outro caminho. Já estou agarrado em um livro. Eu vou ficar militando, mas candidato neste momento, não gostaria de ser – explicou.
O Globo