Homem chega às casas das vítimas oferecendo rezas e pedindo dinheiro em espécie
Moradores da zona rural de Granjeiro, no Interior do Ceará, têm sido alvo de uma dupla de estelionatários que oferecem orações em troca de dinheiro em espécie. As vítimas são, em sua maioria, idosos, e um dos estelionatários — também idoso — se apresenta para elas como irmão do padre Marcelo Rossi, que tem fama nacional. O caso é investigado pela Delegacia Municipal de Várzea Alegre.
O Diário do Nordeste ouviu cinco vítimas e "quase vítimas". Uma delas afirmou que perdeu cerca de R$ 1,5 mil. Com outra, o rombo foi de R$ 3,6 mil. E, conforme os relatos, a estratégia dos criminosos é semelhante em todos os casos.
O golpe funciona assim: a dupla chega de carro a uma residência, desce do veículo e pergunta aos moradores se eles têm mel de abelha, a fim de preparar um "remédio para a vista". Dependendo da resposta, que costuma ser negativa, os estelionatários mudam de assunto e um deles — o idoso, que usa um jaleco branco — se apresenta como irmão do padre Marcelo Rossi e se oferece para rezar pela família.
Dentro da casa, para conquistar a confiança dos idosos e incitar a curiosidade deles, o suposto "rezador" começa a fazer perguntas e afirmações sobre as vítimas.
"O cara veio aqui com um 'jalecão' branco. Entrou direto, pegou na mão da minha irmã e disse: 'Você não casou porque você sofreu muito'. Aquela conversa toda. E disse: 'Vou orar por vocês'", lembrou Cícero Moreira Filho, que, junto à irmã, perdeu mais de R$ 1 mil que guardava em casa. "Ele [estelionatário] disse: 'Vocês têm a vida muito embaraçada, mas vou fazer uma oração. Vocês têm dinheiro? Vão buscar. Eu não quero dinheiro, não preciso'", continuou
Nesse momento, o homem de jaleco pediu para Cícero contar o dinheiro com as próprias mãos. Ele obedeceu, mas foi interrompido pelo criminoso, que, alegando que a vítima não sabia contar, tomou as notas e as enrolou ele mesmo em pequenos maços. Depois, entregou os "cartuchinhos" ao idoso e pediu que ele os abrisse apenas algumas horas depois.
Assim que o golpista saiu da casa, Cícero pediu à irmã que buscasse os maços e os abrisse. Foi quando eles encontraram apenas pedaços de papel higiênico e constataram que foram roubados.
'TENHO NEM UM TOSTÃO'
Em outra casa, a dupla repetiu o método: chegou de carro, perguntou se tinha mel de abelha para vender, ofereceu "a palavra de Jesus" e perguntou quanto de dinheiro em espécie havia ali.
"Saí de casa com R$ 22 no bolso. Quando voltei, estavam os dois homens [na porta da residência]", contou o agricultor Raimundo Severino. Segundo ele, o golpista perguntou: "O senhor tem um caroço nas costas?", e ele assentiu. "Aí ele disse: 'Pois não opere, não. Se o senhor operar, morre'", lembrou o idoso. Depois daí, o homem continuou "falando em Jesus, um bocado de palavra", e perguntou quanto havia na casa. "Respondi: 'tenho nem um tostão'", disse Raimundo.
Quem também se livrou do estelionatário por recusar dar dinheiro foi o agricultor Raimundo Fernandes de Almeida. Segundo ele, o "rezador" chegou "procurando um mel para tratar da vista" e falando que era irmão do "Reginaldo Rossi" — o idoso confundiu o nome do cantor Reginaldo Rossi com o do padre Marcelo Rossi, religioso "usado" pela dupla para aplicar os golpes.
Raimundo disse que o homem de jaleco pediu R$ 850 para ajudar na construção de uma igreja em Iguatu, a cerca de 88,2 quilômetros dali. "Eu não dou um conto do meu dinheiro", disse o agricultor. "Aí o outro [golpista] disse: 'Você vai negar R$ 50 para doação de uma igreja?'". Como Raimundo continuou se negando, a dupla foi embora
PADRE MARCELO ROSSI NÃO TEM IRMÃO
O Diário do Nordeste entrou em contato com a assessoria de imprensa do padre Marcelo Rossi para perguntar se o sacerdote gostaria de se manifestar sobre o caso.
Por e-mail, a assessoria disse apenas que nunca tomou conhecimento da história e afirmou que é público que o padre Marcelo Rossi tem apenas duas irmãs.
INVESTIGAÇÃO
Os supostos casos de estelionato em Granjeiro estão sendo investigados pela Delegacia Municipal de Várzea Alegre, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Denúncias que possam contribuir com as investigações podem ser repassadas à Polícia pelo telefone (88) 3541-2397, da delegacia de Várzea Alegre, pelo 181, que é o Disque-Denúncia da SSPDS, ou pelo (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser encaminhadas mensagens em áudio, vídeo e fotografia.
Diário do Nordeste