Um ano após exclusão de Izolda Cela da disputa pela reeleição, PDT tem clima de vingança e troco, como contragolpe, às manobras de 2022


 

Os ressentimentos, as mágoas e as feridas são profundas no PDT desde as eleições de 2022 quando, por uma decisão do então presidenciável Ciro Gomes, com o apoio do prefeito José Sarto e do presidente regional André Figueiredo, o partido excluiu a governadora Izolda Cela da disputa à reeleição e impôs a candidatura do ex-prefeito Roberto Cláudio ao Palácio da Abolição.

Para os pedetistas que defendiam a manutenção da aliança com o PT, a escolha de Roberto, no dia 18 de julho de 2022, com a candidatura homologada seis dias depois, representou um verdadeiro golpe. Estava chegando ao fim o ciclo de 16 anos de uma aliança construída, em 2006, para a primeira eleição de Cid Gomes ao Governo do Estado e que prospera até 2022, após dois mandatos de Camilo Santana no Palácio da Abolição.

O atual Ministro da Educação, Camilo Santana, que deixou o cargo de governador para concorrer ao Senado, defendia a candidatura à reeleição da sua sucessora Izolda Cela, filiada ao PDT e nome que ganhou projeção na vida pública e política a partir do Município de Sobral, quando ocupou, na gestão de Cid Gomes, o cargo de Secretária de Educação. Izolda acompanhou Cid na administração estadual, foi escolhida vice de Camilo e, em abril de 2022, se tornou a primeira mulher a governar o Ceará.

IZOLDA, PERFIL COMPLETO, SEM MOTIVO PARA REJEIÇÃO

Izolda tinha, portanto, todas as credenciais para ser o elo que legitimava a manutenção da coligação PDT-PT: era governadora, tinha direito à reeleição, era filiada ao PDT, tinha a confiança do grupo do PDT liderado pelo senador Cid Gomes e de Camilo Santana e despertava outro simbolismo na política: poderia se tornar a primeira mulher eleita para governar o Estado do Ceará.

O perfil completo de Izolda foi, porém, ignorado e uma banda do PDT construiu o caminho da desavença, da divisão, escolhendo Roberto Cláudio candidato ao Governo. Roberto não conseguiu unir o PDT, mas atraiu o PSD como principal muleta para dar sustentação a candidatura que, ao longo da campanha, se mostraria inviável, ficando, ao final do primeiro turno, na terceira posição, atrás de Elmano e Capitão Wagner (União Brasil).

DIVISÕES, INTRIGAS E MÁGOAS

O cenário de divisões e intrigas no PDT deixou a porta aberta para prefeitos e deputados estaduais que endossavam a tese de reeleição de Izolda Cela migrarem para o palanque de Elmano Freitas, lançado por Camilo e apoiado por uma ampla coligação partidária.

O erro do grupo de Ciro Gomes, ao escolher Roberto Cláudio, foi desdenhar da capacidade de Camilo de ganhar, sem o apoio do PDT, uma eleição ao Palácio da Abolição.

Ciro perdeu no PDT e dentro de casa porque viu os irmãos Cid e Ivo ficarem distantes do palanque de Roberto Cláudio. Cid e Ivo não declaram apoio a Elmano, mas fizeram campanha para eleger Camilo ao Senado. Ou seja, o gesto atraiu o engajamento de muitos pedetistas para Elmano e Camilo.

Camilo montou a dobradinha Elmano-Lula e, no aprendizado que recebeu ao longo de quatro campanhas estaduais (2006, 2010, 2014 e 2018) comandadas pelos irmãos Ferreira Gomes, incorporou o ‘modus operandi’ de trabalhar, conquistou adesões inesperadas, ampliou o palanque e surpreendeu ao ganhar, com Elmano, a eleição no primeiro turno.

HORA DA VINGANÇA

Passado um ano da manobra que muitos definem como golpe, quando Izolda Cela foi impedida de concorrer à reeleição, o clima dentro do PDT é de vingança, de troco e, quem sabe, de contragolpe. E, nesse cenário, a expressão mais adequada para definir o ambiente interno no partido é um adágio popular bem conhecido: ‘a vingança é um prato frio que se come frio’.

O movimento deflagrado pelo senador Cid Gomes para tirar do cargo o presidente regional André Figueiredo ganhou ainda mais dimensão e aprofundou a crise interna ao ponto de exigir a presença do Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, no Ceará. Lupi, que está afastado da Presidência Nacional do PDT após assumir o Ministério no Governo Lula, invadiu a madrugada desta terça-feira (27) em reuniões e articulações com lideranças estaduais para tentar apaziguar o partido.

Cid tem, hoje, apoio da maioria dos 84 membros do Diretório Estadual para destituir André do cargo de presidente ou, por meio de uma convenção, se eleger presidente da legenda. André, que ocupa, também, o cargo de presidente nacional do PDT, é respaldado pelo grupo de Ciro Gomes, mas já não conta mais com o apoio da maioria, embora tenha mandato até o final deste ano.

A mudança de comando regional passa por sentimento de vingança, mágoas e, ao mesmo tempo, orgulho de quem não aceita ceder, nem perder o poder. A saída antecipada de André Figueiredo do cargo de presidente regional seria entendida como desmoralização, tanto para André, quanto para Ciro, Roberto Cláudio e José Sarto. A permanência de André no cargo significaria, no outro lado, uma derrota para os dissidentes que seguem o senador Cid Gomes.

O Ministro Carlos Lupi busca um meio termo para evitar que as mágoas e os ressentimentos atropelem a força construída pelo PDT no Ceará nos últimos 10 anos. O caminho, talvez, seja a escolha de um nome que dirija o partido sem os ranços herdados das eleições de 2022 e que, pelo quadro atual, irão comprometer o furto do partido nas eleições de 2024.


Ceará Agora

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