Boa parte das brasileiras desconhecem os direitos que possuem caso encarem uma suspeita ou diagnóstico de câncer de mama, segundo pesquisa encomendada pela Pfizer ao instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec). O estudo mostrou diversas faces do desconhecimento à doença, que é o tipo de tumor maligno mais comum entre as mulheres no País.
Ao todo, foram entrevistadas 1.400 mulheres a partir de 20 anos e sem o diagnóstico da doença foi feita durante 18 meses. Elas estavam espalhadas pela cidade de São Paulo (SP) e pelas regiões metropolitanas do Recife (PE), de Porto Alegre (RS), de Belém (PA) e do Rio de Janeiro (RJ).
Dessas, 45% disseram não saber que a lei obriga a rede pública a iniciar o tratamento de uma paciente com câncer em até 60 dias após o diagnóstico. Já cerca de 44% delas não conheciam que, caso haja uma suspeita, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve realizar exames na paciente em até 30 dias.
Presidente e fundadora do Instituto Oncoguia, Luciana Rolts vê, na ONG, os efeitos desse desconhecimento. “Muitas mulheres, ao receberem o diagnóstico, nos ligam e perguntam quais são os direitos que possuem”, revelou. Ela também denuncia que o índice de cumprimento das leis ainda é muito baixo e que faltam dados para tornar a denúncia mais efetiva aos órgãos competentes.
Ela também indicou que menos da metade das respondentes (44%) sabe que o governo federal possui uma ferramenta de participação social chamada Consulta Pública. Através dela, a sociedade pode opinar sobre decisões ligadas às redes públicas ou suplementares de saúde. O percentual das que conhecem a plataforma ainda diminui entre as mais velhas (38%).
“Precisamos resgatar nas pessoas o senso de cidadania, o que se conecta com conhecer e exercitar direitos e deveres, em especial em relação à própria saúde”, Luciana. “Conhecer não é privilégio, é oportunidade. E, se eu não me envolvo, alguém vai se envolver por mim.”
Em torno de 28% das entrevistadas têm a percepção de que o tratamento ao câncer de mama é desigual pelo Brasil. Ainda, 19% pontuaram que o tratamento avançou para quem tem plano de saúde, mas que pacientes da rede pública não têm acesso às medicações mais modernas. Por outro lado, 23% das mulheres entre 20 e 29 anos disseram não ter informações sobre o tratamento da doença.
Sobre a evolução no tratamento nos últimos 5 anos, 36% responderam que ele “está cada vez mais eficaz, com menos efeitos colaterais, proporcionando uma vida melhor e mais longa”. Parte da amostra (13%) não se mostrou convencida com a possibilidade de tratar o tumor quando está em fase metastática - que já é uma realidade.
"É muito comum que uma paciente metastática na sala de espera seja confundida com a acompanhante. A melhoria no tratamento contínuo da doença é uma realidade diferente de um tempo atrás. Esse cenário mudou bastante", comentou a médica oncologista clínica Solange Sanches.
A dificuldade com a saúde suplementar chegou à jornalista Kamila Nunes, de 33 anos, quando perdeu o emprego e, com ele, o plano de saúde. Enfrentando o câncer de mama, precisou, mesmo com o novo plano, tratar-se na rede pública por não ter cumprido o período de carência. “Você não escolhe um diagnóstico como esse. É mercenário”, denuncia.
CUIDADOS PALIATIVOS E O FIM DA VIDA
Apesar dos cuidados paliativos serem “medidas adotadas visando a qualidade de vida da paciente e da família, inclusive quando há chance de cura”, como pontuou Solange, menos da metade das participantes (47%) do levantamento têm a percepção.
Sobre pacientes terminais, a maioria (68%) revelou que não saberia como agir se soubessem que a morte é inevitável a alguém próximo, como familiar ou amigo. Cerca de 72% considera que a família deve compartilhar essa informação com o paciente, e 41% acha que os médicos devem revelá-la apenas aos familiares. Ainda, a maior parte (79%) defendem que a família deve respeitar qualquer decisão de um paciente terminal.
Só 27% da amostra tem conhecimento sobre o testamento vital, que permite a toda pessoa a definição de quais tratamentos ela deseja receber caso tenha uma doença terminal e incurável. Outras 41% desconhecem a ferramenta
Jornal do Commercio