Avaliado em 5 milhões, o complexo tem expectativa de ter as obras iniciadas no primeiro semestre de 2024; o OPINIÃO CE conversou com o professor Marcelo Soares, coordenador do projeto
A praia de Jericoacoara, importante ponto de turismo no Ceará, deve contar com investimentos da União na Educação para o próximo ano. Através do Ministério da Educação (MEC), a Universidade Federal do Ceará (UFC) receberá pelo menos R$ 5 milhões para a construção de um complexo que levará à região o “tripé acadêmico”: ensino, pesquisa e educação. O OPINIÃO CE conversou com o professor Marcelo Soares, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) e coordenador do projeto, que destacou a ausência de universidades na região como uma motivação para a continuidade do plano.
Como explicou Marcelo, o valor do investimento envolve uma estação de pesquisa, avaliada em R$ 1,5 milhão; um centro de visitantes; uma residência para professores e alunos pesquisadores visitantes; e um centro de formação, que vem sendo chamado de “escola de turismo”.
A área de atuação dos equipamentos da UFC será em todo o Litoral Norte, que compreende 13 municípios. “Se você fizer análise de perfil das Universidades, existem institutos, ali na região do Acaraú, por exemplo. Mas lá não tem ninguém que faça muito essa pesquisa na área de turismo, de conservação do meio ambiente e de impacto das mudanças climáticas (…). Pode pegar do Litoral Norte até o Piauí, não tem nenhum curso de turismo lá. Isso é uma prova que está faltando uma política pública”.
Marcelo apresentou dados que o preocupam. “Existem quatro parques que são os mais visitados do Brasil: Parque da Tijuca, no Rio de Janeiro, tem várias Universidades; em segundo lugar, Jericoacoara, o único nordestino, não tem nenhuma Universidade; em terceiro, Foz do Iguaçu, tem Universidade; e em quarto lugar, o Parque Nacional da Bocaina, entre São Paulo e Rio de Janeiro, tem Universidade lá também. Ou seja, o único que não tem Universidade é Jericoacoara. Jericoacoara tem 1,6 milhão de visitantes e Bocaina tem 400 mil. Muito menos visitado e já tem uma estrutura de suporte. Aqui [Jericoacoara] não tem essa estrutura”.
Segundo a Reitoria da UFC, há um esforço para que as obras sejam iniciadas no primeiro semestre de 2024. “Para que isso aconteça, precisa ser concluída a doação do terreno pelo Governo do Estado à UFC, além de, obviamente, haver o aporte dos recursos necessários pelo Ministério. No início do ano, os recursos começam a chegar a partir de março. É por isso que o primeiro semestre de 2024 é o período em que devemos licitar a obra”, comunicou a Reitoria.
TRIPÉ ACADÊMICO
O foco da ida da Universidade à Jericoacoara, conforme Marcelo, é no tripé acadêmico. Para o ensino, a expectativa é para a realização de aulas de campo. Ainda segundo ele, a Universidade dará atenção à população das cidades próximas. “Vamos ter um foco nas comunidades de lá, é uma região com muita desigualdade”.
Para a pesquisa, de acordo com o coordenador do projeto, serão abordados temas relacionados ao oceano e a problemas socioambientais. Ele lembrou dos projetos de usinas eólicas offshores. “O Ceará está com vários projetos, lá no Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente], agora, tem 28 projetos, e mais de 1.500 torres projetadas para o mar. Esse centro de pesquisa vai poder pesquisar esse tema”. Ainda conforme Marcelo, os impactos do turismo na região de conservação das dunas das praias e das lagoas também podem ser abordados. “Então esse vai ser o nosso foco, os problemas socioambientais”.
Como ressaltou, a UFC já possuía pesquisas na região, mas a distância dificulta a realização constante dos trabalhos acadêmicos no local. Ainda assim, no ano passado, foram captados R$ 600 mil em pesquisas no território. “A gente fez pesquisa com a educação ambiental, com o lixo marinho, a gente fez sobre a conservação das dunas, só que é aquela coisa de ‘bate e volta’, e a gente sentiu uma necessidade de expandir para lá”, relatou. “Você tem que aumentar a ação de pesquisa e ensino”, completou.
A princípio, como disse o professor, a unidade não vai contar com cursos. No entanto, ele não descartou a possibilidade de se formar um Campus da Universidade na Região. “Mas isso seria alguma coisa que a reitoria vai ter que decidir no futuro, mas você precisa começar fazendo cursos de 40, 60, 80 horas e ir evoluindo”.
QUIXADÁ
Além do complexo em Jericoacoara, a UFC também prevê a implementação de uma “estação tecnológica” em Quixadá, no Sertão Central. A unidade está prevista para ser inaugurada em janeiro de 2024, e vai funcionar no antigo prédio da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), que servia de parada para trens. Junto ao Campus da UFC na cidade, participam do projeto também o Governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE); a Prefeitura de Quixadá; e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE).