O Ministério Público Federal (MPF) recebeu uma denúncia direcionada à Globo sobre prática de intolerância religiosa em suas novelas. Uma frente da liderança de religiões de matrizes africanas entrou com representação no MPF acerca do assunto e a iniciativa é uma reação a uma suposta orientação dada a autores de dramaturgia da emissora a não investirem mais em enredos com temáticas espíritas, privilegiando as evangélicas.
As informações foram divulgadas inicialmente pelo jornalista Gabriel Perline, do Portal IG. O alvo é Amauri Soares, diretor dos Estúdios Globo, e o desencadeador do pedido de investigação foi uma reportagem de Carla Bittencourt, de 26 de setembro, na qual aponta que em uma reunião com autores o profissional afirmou que em cerca de dez anos os evangélicos serão maioria no Brasil. Assim, há o desejo da emissora em “conquistar” esse público.
Com isso, o foco é apostar em novelas com tramas direcionadas a esses espectadores para reconectá-los às suas obras - visto que essa parte da audiência “deixou” a TV Globo durante o governo de Jair Bolsonaro - e “abrir mão de roteiros espíritas”. A reportagem ainda alega que uma novela escrita por Thelma Guedes com esse viés foi engavetada pela emissora.
Segundo o Portal IG, a denúncia ao MPF foi registrada em 27 de setembro. O órgão recebeu o material e está analisando o conteúdo. Se for acatado, será aberta uma investigação para detectar se houve, de fato, prática de intolerância religiosa na Globo.
A frente religiosa afirmou também que, por operar mediante concessão pública, a Globo não deveria atender a interesses religiosos de somente uma parte da população. Assim, é preciso atuar de forma que contemple os mais diversos públicos.
“Posto que nenhuma instituição que faça uso de autorizações públicas para seu funcionamento, seja ela de natureza pública ou privada, deve fazer distinção de credo ou prática religiosa em qualquer esfera da sociedade civil, principalmente considerando a TV aberta, um espaço democrático de livre acesso a todos, regulamentada por concessões públicas que devem atender aos interesses coletivos, não de grupos religiosos A ou B. A Constituição Federal de 1988 é garantidora da democracia e do espaço de governo para todos e todas”, pontua a denúncia.
Em resposta ao Portal IG, a Globo afirmou que “não há qualquer orientação” no sentido do que foi apresentado pela matéria. Assim, os “Estúdios Globo estão sempre abertos a receber as mais diversas propostas criativas de seus criadores”. A emissora ainda afirmou que “apoia a liberdade religiosa e considera as diversas religiões professadas no País um patrimônio cultural da nação brasileira”.
O Povo