Em editorial publicado na edição desta quarta-feira, 22, o jornal O Globo criticou o “linchamento virtual” da jornalista do jornal O Estado de S. Paulo Andreza Matais e de sua equipe depois da publicação de uma série de reportagens sobre a visita de “Dama do Tráfico” a assessores do Ministério da Justiça, comandado por Flávio Dino.
Luciane Barbosa Farias, casada com um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, também está envolvida com o tráfico. Ela foi condenada, em outubro, a dez anos de prisão por crimes de associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Luciane recorre em liberdade;
O próprio Dino e aliados de Lula, como a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, compartilharam notícias falsas sobre o processo de produção da notícia e ataques a Andreza. Gleisi acusou a editora do Estadão de “tentar fabricar um escândalo”, sem comprovação. O único “indício” era uma suposta denúncia ao Ministério Público do Trabalho, que pode inclusive ser feita anonimamente, de que Andreza praticava assédio contra seus subordinados.
“O uso do linchamento virtual para intimidar jornalistas combina mais com autocracias do que com um governo eleito empunhando o estandarte da democracia”, afirmou O Globo, ao lembrar que “Andreza foi submetida a ataques virulentos nas redes sociais, promovidos por influenciadores e contas simpáticos ao governo, depois repercutidos por autoridades”.
Além de Gleisi, O Globo cita outros deputados governistas como Ivan Valente, Nilto Tatto e Rubens Pereira Jr., que compartilham o conteúdo falso.
O jornal carioca lembra que o governo Lula já reagiu de maneira virulenta contra Andreza em outra recente oportunidade: quando ela publicou reportagem atribuindo à atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a liberação de recursos para a Argentina pagar dívidas com o FMI.
“Se há algo de positivo em todo esse episódio lamentável, é a certeza de que a imprensa continua a cumprir seu papel de fiscalizar os poderosos”, afirma o editorial. O jornal termina o texto citando o jornalista Eurípedes Alcântara, diretor de jornalismo do Grupo Estado, que já adiantou a intenção do jornal de processar Gleisi, Dino e outros aliados.
Segundo Eurípedes, a reação furiosa orquestrada nas redes sociais contra jornalistas do Estadão “em nada diminui a qualidade da apuração da reportagem sobre as intimidades da dama do tráfico com altos funcionários públicos”. Apenas mostra “a incapacidade de certos setores de conviver com o jornalismo independente”.
Revista Oeste