O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, na noite desta sexta-feira (8), que o PT precisa rever as atitudes que levaram o partido a não eleger mais representantes na Câmara dos Deputados. "É preciso encontrar respostas dentro de nós", disse, em Brasília, durante a conferência eleitoral da legenda para as eleições de 2024.
Temos que nos perguntar: por que um partido que, muitas vezes, nos discursos, pensa que tem todas as verdades do planeta só conseguiu eleger 70 deputados? Por que tão pouco se a gente é tão bom, se a gente acha que poderia ter muito mais? É preciso encontrar respostas dentro de nós.
A legenda tem a segunda maior bancada da Câmara, com 68 deputados. A primeira sigla com mais representantes é o PL, que tem 96. Com a federação do PT, que inclui também o PCdoB e o PV, o partido de Lula chega a 81 parlamentares.
O petista também apontou uma possível dificuldade do PT para se comunicar com diversos setores da sociedade. "Será que estamos falando o que o povo quer ouvir de nós? Será que estamos tendo competência para convencer o povo das nossas verdades? Ou será que temos que aprender com o povo como falar com eles? Como vamos fazer para falar com os evangélicos?", questionou.
"Precisamos aprender a construir discurso para falar com essa gente. Como vamos convencer pequeno e médio empresário a votar em nós? Um metalúrgico que ganha R$ 8.000 não quer votar na gente. É por que essa pessoa ficou ruim? Não, mas porque elevou um milímetro o padrão de vida, e nós não aprendemos a conversar com ela", criticou.
Lula reforçou a importância de fazer um trabalho eleitoral direto com os eleitores. "O dinheiro ainda pesa, mas trabalho de base não tem dinheiro que compre, e precisamos voltar a fazer trabalho de base. Não podemos ter candidato querendo comprar apoio de líder de base. Apoio a gente conquista, trabalha, vai para a rua, monta comitê, monta grupo. Sempre foi assim, por que tá difícil? Porque nosso partido também tem problemas", refletiu o petista.
Ao lado de Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também participou do evento e foi aplaudido pela militância da legenda. Estiveram presentes ainda deputados, senadores e ministros do PT. A conferência eleitoral do partido para as eleições 2024 continua neste sábado (9), em Brasília.
Para Lula, as eleições do próximo ano também serão polarizadas. "Não sei se será municipalizada, estadualizada ou nacionalizada. Eu sinceramente acho que essa eleição vai acontecer o fenômeno, outra vez, de Lula e Bolsonaro disputando essas eleições nos municípios", afirmou.
Lula destacou a importância de escolher "com sabedoria" quem vai disputar as eleições de 2024 em cada município, inclusive por meio de acordos com outros partidos. "Se a gente não tem candidato, tem que procurar aliados, tem que apoiar um cara próximo de nós, disposto a construir uma linha programática conosco. Fazer as pessoas assumirem compromissos, fazer acordo com partidos de esquerda e com pessoas democráticas. Escolham com sabedoria e inteligência", afirmou.
Como exemplo de alianças partidárias, o petista citou a chapa que compôs com Alckmin em 2022. "Não foi fácil convencer a militância do PT de que o Alckmin seria o vice ideal para eu ganhar as eleições. Muita gente falava 'mas ele foi seu adversário', eu falava 'que bom, é desse que eu preciso, alguém que é politico, mas não necessariamente do meu partido, que fale com quem eu não consigo falar. Se não gostar de mim, tem o Geraldo Alckmin para falar 'o Lula não é tão ruim assim'", declarou o presidente.
Lula também comentou o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. A expectativa do presidente era concluir a parceria, em debate há mais de 20 anos, enquanto esteve à frente do bloco sul-americano. A presidência do Brasil no Mercosul se encerrou nessa quinta (7).
"Não fizemos acordo com a União Europeia, porque a gente não quer ceder em compras governamentais. É uma coisa para atender o interesse do governo e o fortalecimento da indústria e fazer com que as micro, pequenas e médias empresas cresçam. Por isso que vamos voltar a colocar o componente nacional, voltar a fazer navio e exigir 65% pelo menos nas coisas fabricadas para gerar emprego aqui dentro", declarou.
Uma das questões apresentadas pela União Europeia está relacionada às compras governamentais. O bloco quer que o Mercosul autorize as empresas da Europa a participar, em condição de igualdade, de licitações em países sul-americanos, e vice-versa. Essas compras envolvem a aquisição de bens, a execução de obras e afins.
Na visão do governo brasileiro, a medida pode prejudicar a indústria nacional, uma vez que o Executivo adquire produtos de diversas áreas, como saúde e agricultura. Em uma eventual participação de países europeus nas licitações, o Brasil poderia ter a produção interna prejudicada ou não suficientemente estimulada. A contraproposta pede a revisão de condições estabelecidas para essa categoria.
Há entraves também nas questões ambientais. Os países da Europa querem a garantia de que a intensificação do comércio entre os blocos não vai resultar no aumento de destruição ambiental no Brasil e nas demais nações do Mercosul. Em contrapartida, o lado brasileiro é a favor de que não haja distinção na aplicação de eventuais sanções, ou seja, de que ambos os lados sejam penalizados da mesma forma em caso de descumprimento.
Se concluído, o tratado vai formar uma das maiores áreas de livre-comércio do planeta, com quase 720 milhões de pessoas, cerca de 20% da economia global e 31% das exportações mundiais de bens. Se as normas do acordo entre o Mercosul e a União Europeia já valessem em 2022, cerca de R$ 13 bilhões em exportações brasileiras para o bloco teriam sido negociados sem o pagamento de imposto, segundo uma estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Com o tratado, em torno de 95% de todos os bens industriais terão o imposto de importação para entrar no mercado europeu zerado em até dez anos, sendo que mais da metade desses produtos — quase 3.000 — terá o benefício imediato na entrada em vigor do acordo, diz a confederação.
O acordo do Mercosul com a União Europeia pode permitir a empresas brasileiras serem mais competitivas e terem maior espaço no mercado europeu, além de favorecer instrumentos de diálogo e cooperação política em diversos temas, como mudanças climáticas e segurança pública.
Entre 2002 e 2022, a participação da União Europeia nas vendas brasileiras caiu de 23% para 15%, enquanto a da China cresceu de 4% para 27%. Segundo a CNI, 22% das exportações brasileiras para a China em 2022 foram de bens da indústria de transformação. Esses produtos responderam por 49% de tudo o que o país exportou para o bloco europeu no ano passado.
R7