Ceará: 8 a cada 10 cearenses não tomaram a vacina bivalente contra Covid

 Autoridades de saúde frisam a importância do reforço vacinal com o surgimento de uma nova subvariante



Oito a cada 10 pessoas no Ceará estão sem a proteção mais atualizada contra a Covid:  apenas 1,2 milhão de doses foram aplicadas, enquanto o público apto para tomar a vacina é de 7,6 milhões de indivíduos, até esta quinta-feira (17). Autoridades de saúde frisam a importância do reforço vacinal com o surgimento da subvariante EG.5, conhecida como 'Eris', com maior potencial de transmissão. 

A realidade estadual aponta que apenas 16,73% da população está protegida, conforme os dados da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Em Fortaleza, a situação é semelhante: somente 18,6% do público garantiu a bivalente, como a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) repassou durante entrevista concedida ao Diário do Nordeste.

Autoridades sanitárias apontam que uma cobertura vacinal entre 70% e 80% é o mais ideal e alertam sobre a vulnerabilidade, especialmente dos pacientes idosos ou com doenças crônicas, com a nova forma do vírus.

Luciana Passos, coordenadora das Redes de Atenção Primária e Psicossocial de Fortaleza, explica que os adultos com, no mínimo, duas doses da vacina – sendo a última aplicada há 4 meses – podem receber a bivalente. Pessoas menores de 18 anos, com comorbidades, também podem ter acesso ao imunizante.

"O coronavírus é um vírus respiratório e é muito comum ter variações, não é algo inesperado, mas a capacidade de gerar doença grave é o que queremos evitar e a vacinação faz isso”, completa.

As vacinas estão disponíveis nos 118 postos de saúde, de segunda a sexta-feira com duas unidades plantonistas aos fins de semana, além dos Vapt Vupt (com agendamento), em Fortaleza.

As pessoas acham que já tomaram 4 doses e não precisam da bivalente, mas ela tem uma outra cepa com características diferentes e isso faz com que a sua capacidade de defesa amplie e isso evita casos graves
LUCIANA PASSOS
Coordenadora das Redes de Atenção Primária e Psicossocial de Fortaleza

Ainda não há confirmação da subvariante Eris entre os estados brasileiros, segundo a Rede Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que publicou um boletim nesta quinta-feira (17). No País, existe queda ou estabilização de casos positivos para a doença.

Por isso, mesmo com a repercussão das novas subvariantes que retomam a discussão sobre o uso de máscaras na população, ainda não existe uma orientação unificada de autoridades públicas de saúde sobre a questão.

"Não existe mais a obrigatoriedade do uso de máscaras, então o uso pode ser feito por desejo pessoal, mas a priori a recomendação é da vacinação bivalente", reforça Luciana Passos sobre o contexto de Fortaleza.

O secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antônio Lima, avalia que a campanha da vacina bivalente "chegou em um momento em que havia uma queda bem importante da transmissão e havia uma percepção de risco  menor, sobretudo, porque nós já tínhamos, tanto para a 3ª dose quanto para a 4ª, chamadas de 1º reforço e 2º, uma faixa de 60% de cobertura e, às vezes, um número bem maior na faixa dos idosos". 

Ele argumenta que essa percepção baixa de riscos fez com que a procura fosse bem pequena e o Ceará não conseguisse avançar muito. O problema da baixa cobertura vacinal, destaca, se repete no Brasil inteiro. 

A possibilidade de novas variantes e, em paralelo, o escape vacinal, podem, na avaliação de Antônio, "fazer com que a busca pela vacina novamente aumente". 

Sobre as estratégias para aumentar os índices de vacinação, o secretário aponta que, nesse momento "a grande campanha de multivacinação, para atualização de cartão vacinal, acontecerá nos dias 30 de setembro e 14 de outubro".

NECESSIDADE DE CUIDADOS

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou uma nota técnica nesta quinta-feira (17) em que recomenda a todos os gestores de saúde a aumentar a testagem e a vigilância genômica dos casos de Covid. Entre as medidas sugeridas, estão:

  • Manter o calendário vacinal para covid-19 atualizado com as doses de reforço recomendadas. Todas as pessoas com 6 meses de idade ou mais devem ter pelo menos 3 doses de vacina realizada.
  • Grupos de risco (pessoas com 60 anos ou mais, imunossuprimidos, gestantes, população indígena e profissionais de saúde) devem ter doses de reforço realizadas com não mais de 1 ano de intervalo da dose anterior, preferencialmente com a vacina bivalente.
  • Uso de máscaras para população de risco em locais fechados, com baixa ventilação e aglomeração caso haja futuramente aumento de casos de síndrome gripal, circulação e detecção viral no Brasil.
  • Testagem dos casos de síndrome gripal para redução da transmissão em caso de Covid-19, com isolamento dos casos positivos.

O QUE É A SUBVARIANTE ERIS?

A nova subvariante é uma derivada da Ômicron, forma predominante do vírus em todo o mundo, e foi considerada como uma variante de interesse pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As informações foram reunidas pela Sociedade Brasileira de Infectologia.

A mutação já foi identificada em 51 países e, devido a maior capacidade de transmissão, pode se tornar a principal forma circulante. Ainda assim, a OMS classificou a EG.5 como de baixo risco para a saúde pública em nível global.

Isso significa que, mesmo com a confirmação da subvariante, não foi identificada maior gravidade dos casos de Covid.

A ministra da saúde Nísia Trindade destacou, em publicação nas redes sociais, que ainda não há evidências de que a EG.5 ou BA.6 escapem à imunização ou impactem em casos graves. Dessa forma, a orientação segue a mesma: colocar a carteira de vacinação em dia.

"Pessoas há mais de um ano sem vacina contra a Covid-19, principalmente aquelas em grupos prioritários, precisam receber a dose de reforço das vacinas bivalentes", destaca a ministra. Já o uso de máscara é recomendado apenas para pessoas imunocomprometidas.

"Além disso, está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) um antiviral para tratamento da infecção logo que diagnosticada e no aparecimento de sintomas", complementou Nísia Trindade, que também destacou a importância de vacinar crianças e adolescentes com nas campanhas de multivacinação.

O QUE É A VACINA BIVALENTE?

A vacina bivalente usa a forma do coronavírus Ômicron original e uma subvariante na sua composição. No caso dos imunizantes que serão recebidos no Brasil, uma fórmula é feita com a subvariante BA.1 e a outra com a combinação BA.4/BA.5.

Isso é importante, porque as vacinas disponíveis até o momento foram fabricadas com o coronavírus original identificado em Wuhan, na China, no início da pandemia. Com tantas mutações no vírus desde então, há o que os cientistas chamam de escape vacinal.

Quando um paciente é infectado pelas subvariantes, há uma chance da infecção “furar” a proteção oferecida. Isso é motivo de preocupação, principalmente, para os pacientes idosos e com problemas no sistema imunológico. 


Diario do Nordeste 

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